Oswald Barroso - Dia Mundial do Teatro. A GRITA é de todos! O Povo 27/03/2016
Oswald Barroso em cena no espetáculo "O reino da Luminura e a Maldição da Besta Fera", primeiro texto do artista. Acervo pessoal. |
Dia Mundial do Teatro, 27 de março.
Quando o Grupo Independente
de Teatro Amador (Grita) foi fundado, em 1973, Oswald Barroso estava preso em
Recife. Perseguido durante a ditadura militar, o hoje respeitado artista e
pesquisador cearense conseguiu voltar a Fortaleza e entrou para a companhia
teatral a partir de 1975. Nascido no meio universitário, o Grita, que se
manteve na ativa até a década de 1990, fez parte de um momento efervescente no
qual o meio artístico cearense abraçou temas políticos. Hoje, dia mundial do
teatro, o V&A.dom retoma a questão: por que é tão importante que a cena
teatral se engaje politica e socialmente?
“O teatro engajado quer fazer a plateia refletir, quer estimular o pensamento crítico contra a opressão”, aponta Oswald, que durante a ditadura foi censurado em diversas montagens. Dentro do grupo Grita, além dos temas de cunho político nos palcos tradicionais, os artistas buscavam chegar a outros públicos, se apresentando em assentamentos rurais e favelas. “A gente fazia teatro de rua, de agitação, em cima de caminhão, nas calçadas. Também participamos das lutas pelas Diretas Já”, relembra Oswald.
Para o teatrólogo Ricardo Guilherme, a arte cênica historicamente adquiriu, como uma das suas funções, demonstrar insatisfação com o que é imposto à sociedade. “O teatro sempre foi um ato politico. Em toda a sua história, demonstrou inquietação em relação ao status quo”, afirma o artista.
Ricardo teve censurado o texto Frei Tito Vida, Paixão e Morte, que conta a história do religioso cearense exilado pelo regime militar. A peça, escrita em 1985, só pôde ser apresentada em 1991, sendo remontada em 2012 com novo elenco.
Recentemente premiado pela Funarte, o espetáculo sobre Frei Tito segue vivo e em julho fará circulação pelo País, iniciando por São Paulo. “O artista de teatro tem de ter o dom de estar ao mesmo tempo nos três tempos: no passado, porque precisa saber o que nós somos; no presente, pra saber do agora, e ainda projetar o futuro, apontando caminhos nesse sentido”, completa Ricardo.
Para Edson Cândido, diretor do grupo Imagens, os artistas têm a potência para provocar revoluções. “Somos formadores de opiniões, como dizia Bertolt Brecht (encenador alemão), e só através da transformação por outras vias é que vamos construir outras possibilidades”, diz. A principal influência do grupo Imagens é o escritor Plínio Marcos (1935 -1999), reconhecido por tratar temas considerados “subversivos” durante a ditadura. “Plínio discutia um país cercado de diferenças sociais na década de 1970, mas que continua até hoje atual”, diz.
Panfletário?
“O teatro é uma arte que, por natureza, põe no palco o mundo, mas não acho que ele tenha a ver com uma moralidade política ou qualquer outra. O teatro taxativo, conclusivo, que bate o martelo sobre nossas questões, suprime sua dimensão ambígua, própria ao rito humano”, pondera o artista e pesquisador Thiago Arrais, que atualmente estuda drama e encenação na universidade de Sorbonne.
Oswald Barroso também contrapõe: “O teatro engajado pode ser ainda o de propaganda, em que você pega uma ideia e quer massificar, enfiar na cabeça das pessoas. Esse é um teatro opressor, seja de que ideologia for, porque quer fazer com que as pessoas sigam uma ideia cegamente e não propõe novas ideias, como o teatro precisa ser”, finaliza.
“O teatro taxativo, conclusivo, que bate o martelo sobre nossas questões, suprime sua dimensão ambígua, própria ao rito humano”
Thiago Arrais, diretor de teatro
“O teatro engajado quer fazer a plateia refletir, quer estimular o pensamento crítico contra a opressão”, aponta Oswald, que durante a ditadura foi censurado em diversas montagens. Dentro do grupo Grita, além dos temas de cunho político nos palcos tradicionais, os artistas buscavam chegar a outros públicos, se apresentando em assentamentos rurais e favelas. “A gente fazia teatro de rua, de agitação, em cima de caminhão, nas calçadas. Também participamos das lutas pelas Diretas Já”, relembra Oswald.
Para o teatrólogo Ricardo Guilherme, a arte cênica historicamente adquiriu, como uma das suas funções, demonstrar insatisfação com o que é imposto à sociedade. “O teatro sempre foi um ato politico. Em toda a sua história, demonstrou inquietação em relação ao status quo”, afirma o artista.
Ricardo teve censurado o texto Frei Tito Vida, Paixão e Morte, que conta a história do religioso cearense exilado pelo regime militar. A peça, escrita em 1985, só pôde ser apresentada em 1991, sendo remontada em 2012 com novo elenco.
Recentemente premiado pela Funarte, o espetáculo sobre Frei Tito segue vivo e em julho fará circulação pelo País, iniciando por São Paulo. “O artista de teatro tem de ter o dom de estar ao mesmo tempo nos três tempos: no passado, porque precisa saber o que nós somos; no presente, pra saber do agora, e ainda projetar o futuro, apontando caminhos nesse sentido”, completa Ricardo.
Para Edson Cândido, diretor do grupo Imagens, os artistas têm a potência para provocar revoluções. “Somos formadores de opiniões, como dizia Bertolt Brecht (encenador alemão), e só através da transformação por outras vias é que vamos construir outras possibilidades”, diz. A principal influência do grupo Imagens é o escritor Plínio Marcos (1935 -1999), reconhecido por tratar temas considerados “subversivos” durante a ditadura. “Plínio discutia um país cercado de diferenças sociais na década de 1970, mas que continua até hoje atual”, diz.
Panfletário?
“O teatro é uma arte que, por natureza, põe no palco o mundo, mas não acho que ele tenha a ver com uma moralidade política ou qualquer outra. O teatro taxativo, conclusivo, que bate o martelo sobre nossas questões, suprime sua dimensão ambígua, própria ao rito humano”, pondera o artista e pesquisador Thiago Arrais, que atualmente estuda drama e encenação na universidade de Sorbonne.
Oswald Barroso também contrapõe: “O teatro engajado pode ser ainda o de propaganda, em que você pega uma ideia e quer massificar, enfiar na cabeça das pessoas. Esse é um teatro opressor, seja de que ideologia for, porque quer fazer com que as pessoas sigam uma ideia cegamente e não propõe novas ideias, como o teatro precisa ser”, finaliza.
“O teatro taxativo, conclusivo, que bate o martelo sobre nossas questões, suprime sua dimensão ambígua, própria ao rito humano”
Thiago Arrais, diretor de teatro
Por Paulo Renato Abreu (Jornal O Povo)
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