Messejana CE - 8 de Março de 1607, Criação do Aldeamento de Paupina



Após a intervenção de Pero Coelho, a primeira com presença branca com objetivo de colonização do Ceará, em 1603/04, evidenciada pela habilidade, no trato com os índios, do jovem soldado Martim Soares Moreno, abriu-se caminho para as catequeses pelos missionários da Companhia de Jesus.
 Segundo o cuidadoso historiador Barão de Studart, os padres portugueses Francisco Pinto e Luiz Figueira chegaram no Recife no dia 20 de janeiro de 1607. O objetivo maior seria a evangelização dos nativos, dentro do padrão de aldeamento, e respeitar as instruções dos governantes do Brasil, que seguiam as ordens do rei.
 Com a companhia de índios potiguaras, tabajaras e tupinambás, de origens da Zona da Mata litorânea (PE/PB/RN), seguiram de barco para as salinas de Mossoró (abastecimento) e de lá para a foz do Rio Jaguaribe. Dali o destino seria, a pé, a aldeia potiguara de Parazinho (Paracuru/Trairi), a Ibiapaba e finalmente o Maranhão, curiosamente um dos roteiros sugeridos por historiadores, provavelmente uma dica de Soares Moreno ou do seu capitão-mor, Pero Coelho, afinal os padres até aquele momento não sofreram ataques, mas amistosa recepção dos potiguaras locais.
 No meio do caminho da costa cearense, encontraram um chefe conhecido como “Felipe Algodão”, ou “Amanaí”, nome que confundiu os historiadores, já que na expedição anterior não constava entre os aliados. Por isso as circunstâncias levam a crer que se tratava do amigo de Martim Soares Moreno, o líder pitiguara - anacé (os potiguaras do Vale do Curu), Jacaúna. Foi então que surgiu, em 3 de março de 1607, o primeiro aldeamento do Ceará, denominado “Siará”, em homenagem aos papagaios locais, que mais tarde seria São Sebastião de Paupina (Messejana), no entendimento de estudiosos uma referência indígena a Padre Pinto, “Pai Pina”. Rapidamente, surgiram outros aldeamentos sob orientação dos missionários: Arronches (Porangaba, depois Parangaba) e Soure (Caucaia dos tapebas).

 Na análise da Professora Simone de Souza, “serviam de acampamentos militares contra os habitantes de terras mais adentro”, ou seja, no que pese o sentido religioso das catequeses, os índios eram forçados pelos brancos, mediante “ordem e disciplina", a defender o litoral contra ofensivas dos irmãos tapuias, no caso os ferozes paiacus.
 Fundados os acampamentos indígenas, os quais foram aos poucos trocando as ocas coletivas por casas de taipa, numa clara tentativa de impor a cultura de família cristã, os padres partiram para a missão na Serra da Ibiapaba. Quis o destino que, a caminho do Maranhão, Padre Pinto morresse brutalmente, em 11 de janeiro de 1608, durante uma emboscada dos tapuias tocarijus, tendo seu companheiro se salvado e fugido graças à ajuda de jovens índios que o acompanhavam. Pinto recebera o título de “Amanaiara” (que hoje é nome de distrito em Reriutaba), “Protetor das Chuvas” pelos seus consolos e explicações diante do desespero dos primitivos durante os temporais.
 Paupina passou a chamar-se Vila Nova Real de Messejana da América. Com a expulsão dos jesuítas do Brasil pelas ordens de Marquês de Pombal, primeiro ministro do Rei D. José I, os índios foram afastados por posseiros, um processo de genocídio para quem insistisse em desrespeitar a autoridade branca, sendo que a partir daquela Lei de 14/9/1758, foi instalada Vila em 1/1/1760, considerada sua fundação, data comemorativa de Messejana. Contudo, devido à pouca população e retorno econômico mínimo, chegou a ser extinta em 5 de maio de 1833 pelo Conselho Provincial, mas sem efeito em 13 de dezembro.

Messejana, Fortaleza CE

 Com a crise da charque, muitos se deslocaram do Aracati para as adjacências de Fortaleza. Em sua residência no Alagadiço Novo (hoje “Casa de José de Alencar”, em Messejana), o Presidente da Província no decorrer de 1834, Senador José Martiniano de Alencar (padre e pai do famoso escritor homônimo), promoveu uma série de melhorias nas redondezas utilizando mão de obra nova.
 Em 1839, entretanto, a Lagoa da Precabura dividiria Fortaleza de Aquiraz. Tratava-se da Lei 188, ficando novamente extintas, até 1878, as Vilas de Messejana, Arronches e Soure. Veio a seca de 1875-79 e parte da população faminta da província, num cisma desesperador, foi para a Capital, que ficou cheia de pedintes. A população de 21 mil em 1872 foi para 114 mil em 1878, parte dela chamada de “vagabundos e ladrões”, que passou a trabalhar na construção de presídios militares. Em 23 de novembro teve a condição de Vila restaurada, embora perdendo parte do seu território, sendo reinaugurada em 1881.
Outra seca violenta, em 1915, com poucas medidas do presidente Venceslau Brás, assim como ocorrera no Império. Revolta do povo desolado, desassistido. Caiu a oligarquia Accioly, que já vinha da monarquia e três vezes na república. Com Franco Rabelo no governo, notabilizaram-se as oposições dos monarquista, como as de Pe. Cícero e de parte da imprensa (Unitário, do combatido jornalista João Brígido). Nova frustração. Messejana voltava para Fortaleza em 31/10/1921, assim como Parangaba, definitivamente, levando ao protesto dos Alencar e de moradores.

Ilustrações: Elias Kosmann, em “Messejana, um Lugar Mágico” (Edmar Freitas)






 [U1]19

Comentários

  1. Parabéns, Lucas, texto maravilhoso!
    Se quiser fazer parte dos colaboradores do Fortaleza Nobre, me avise! rs :)

    Beijos

    ResponderExcluir
  2. Onde esta a informacao que Messejana foi fundada em 8 de março?

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Rock Cearense - O Heavy Metal e suas Origens - 1951 - 1986

Profetas da Chuva - De 1603 a 2024. Secas e Chuvas no Ceará

Trairi de Nossa Senhora do Livramento - Cadê a Santa?