Mundaú (Trairi CE) - Beleza Conferida por Virgílio Távora, Soares Moreno e por Vespúcio


Rio Mundaú
Em 15 de agosto de 1981, o governador do Ceará, Virgílio Távora, acompanhado da primeira-dama, Luiza Távora, e dos filhos, Carlos Virgílio e Teresa Maria, esteve no distrito praiano de Mundaú (Trairi CE) para conferir a funcionalidade dos organismos voltados à educação e ações sociais, a partir do Centro Comunitário Dona Nazita, obra de relevância imprescindível aos anseios dos moradores, criada, em 1976, pelo casal José Ribeiro Damasceno e sua digníssima, Coema Escórcio Athayde Damasceno, professores da UFC e UECE, respectivamente. Em 1977 surgiu a escola Zefinha Ribeiro Barroso, e em 1980 a Fundação Sócio Educacional Francisco Damasceno, formando um complexo de ações voltado à saúde, educação e à cultura daquela comunidade que por tanto tempo se encontrava carente de avanços sociais.
 Com a chegada da comitiva, às 9:30 horas, o coral da escola entoou o hino de saudação e, em canto orfeônico, em francês, canções em louvor ao pescador, enquanto 430 estudantes desfilavam, emocionando os convidados. Dona Luiza mais ainda ao receber de estudantes do pré-escolar um chapéu de renda, além de flores, e sua Teresa um vestido de mesma origem, tradição das rendeiras do município.
O Povo, 24/08/1981

 Segundo o governador, sua presença era um “agradecimento e uma homenagem à obra social da obra apostolar, a obra de Damasceno, a obra de Coema”. Em seguida, o casal cortou a fita simbólica referente à inauguração do ambulatório do Centro Comunitário, onde já funcionava a Farmácia Popular, prometendo a doação de um gabinete odontológico completo ao constatar que o dentista usava uma cadeira comum.
 Conferiu outras conquistas, como a biblioteca, erguida com o esforço dos alunos, graças à doações; o Projeto Casulo, numa parceria com a LBA, apoiando os estudantes do pré-escolar; o Centro Cívico (atividades de educação cívica); Grêmio Infantil; o jornal “Voz da Praia” (editado por jovens e adolescentes); cursos de datilografia e de corte-costura; o salão de exposição de peças artesanais, e o TAMUND (Teatro Amador Mundauense), no qual, além de encenações artísticas, realizavam-se programas artísticos diversos.
 Foi a vez de ouvir representantes comunitários e as reivindicações em prol das comunidades. Palmeiras solicitou um (mini) centro comunitário; Emboaca pediu energia elétrica e a regularização de posses de terra, enquanto por Canaan o ilustre líder Professor João Batista solicitou o asfaltamento até a sede do município, além de equipamentos modernos para o posto de saúde e a escola estadual.
 Virgílio Távora respondeu prometendo a Rodovia São Miguel (padroeiro não apenas do distrito, como do próprio e do seu filho); linha telefônica mono--canal, convênio com a Secretaria de Educação do Estado, ampliação da cozinha da merenda escolar e melhorias nos cursos profissionalizantes. Se cumpriu não sei, mas, 35 anos depois, garanto que a comunidade cresceu em todos os sentidos, a ponto de possuir elementos para tornar-se município, fato que tem sido tratado com desinteresse da parte dos executivos do município.

Estuário do Rio Mundaú - Área de Proteção Ambiental (APA - SEMACE)

 Mundaú se destaca não apenas pelas belezas naturais, como dunas das mais belas do litoral brasileiro, encantos das encostas do rio homônimo, mas no aspecto histórico cearense. Segundo o historiador Tristão de Alencar Araripe, o navegador italiano Américo Vespúcio (da esquadra de Colombo, que denominou “América” em sua homenagem) deixou registrado, em suas relações de viagens, ter avistado, em 17 de agosto de 1501, sua enseada conforme a latitude, sendo o primeiro ponto do Ceará a ser avistado (Pompeu Sobrinho foi mais além. Antes de Cabral, Vicente Pinzón, a serviço da Espanha, teria ancorado entre os rios Curu e Trairi). Seu primo e neto de Dona Bárbara, José de Alencar, também insinua, em Iracema (que mistura fatos históricos com ficção absurda), a presença do fundador do Ceará, Martim Soares Moreno e de sua companheira índia fugitiva da Ibiapaba na aldeia do amigo Jacaúna, além de abordar a origem do seu nome (Mundaú: rio tortuoso, armadilhas para se pegar peixes). Fato corroborado pela historiadora trairiense Maria Pia Sales (falecida com idade avançada), confidenciada pela genitora, que teve contatos com mais velhos sobre tal evidência.
 A região litorânea oeste cearense foi habitada pelos índios tremembéns (hoje fixados entre Itapipoca e Camocim), mas provavelmente um acordo deu posse aos potiguaras (tupis, inteligentes, chamados pitiguaras em Trairi/Paracuru), expulsos de suas origens (PE/PB e principalmente do RN), que, misturados aos tapuias, formaram os anacés.

Fonte: Jornal O Povo (24/08/1981), no caso da visita de Virgílio Távora. A matéria não cita o nome da então prefeita de Trairi, Olga Ribeiro, nem de secretários, tampouco o autor.

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