Estádio Castelão - A Demonstração da Capacidade do Nordestino

Castelão. Sua última reforma começou em 2010
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 Rádio Verdes Mares de Fortaleza, 10 de novembro de 1973. A menos de 24 horas da sua inauguração, disse o saudoso cronista esportivo Paulino Rocha, emocionado, sobre o sonho dos desportistas cearenses, o caráter de uma região sofrida: “Sobre o nordestino, a sua força, sobre a sua capacidade, ele que é acima de tudo um forte, que consegue ultrapassar todos os obstáculos, numa determinação digna dos melhores elogios, vejo desta cabine de número 13 do Castelão, a primeira emissora de rádio a falar do local, olhando para essas arquibancadas de concreto armado, a demonstração patente do que ele é capaz”.

 Paulino Rocha foi o idealizador do estádio, sonhador, persistente, levando ao governador do Ceará, Plácido Aderaldo Castelo a mensagem dos torcedores cearenses, devido à incapacidade do maior até então, Presidente Vargas, para comportar a massa durante os clássicos. Ideia aceita após sucessivos levantamentos, estudos e projetos.


(Paulino Rocha, 8/12/1933 - 6/4/1979)


Papa João Paulo II, em 1980, comovendo os cearenses




Inauguração em 11 de novembro de 1973

 Era garoto quando passei a frequentar o “gigante de concreto armado”, como vemos na foto ao lado, sem as arquibancadas atrás das traves. Havia colunas na parte das gerais, uma evidência de que o mesmo estava inconcluso, teria continuidade, como de fato aconteceu, estando pronto para a presença de João Paulo II no Congresso Eucarístico, em 09/07/1980. Nele, três fieis morreram pisoteados, diante de uma massa de 120 mil pessoas. Muitos “geraldinos” as escalavam e assistiam as partidas sobre as mesmas, arriscando-se, enquanto outros, exaltados, provocavam a outra torcida, na divisão entre elas (que não ocorria no passado). E eu, lá de cima das cabines de rádio, menino irrequieto, tentando entender as paixões.
Erandir: o primeiro gol.

 Com o empate sem gols na inauguração (Fortaleza 0x0 Ceará), na partida seguinte, Ceará 2x1 Vitória, Erandir Pereira Montenegro, do clube cearense, foi o autor do gol inaugural, enquanto o centroavante Geraldino Saravá, com destaque no Fortaleza, mantém a artilharia, com 98 gols ainda na década de 70. Vi naquele gramado grandes jogadores representando o meu Estado: Pedro Basílio, Josué, Edmar, Mirandinha, Lulinha, Zé Eduardo, Beijoca, Celso Gavião, Amilton Melo, Luizinho das Arábias, Júlio Cesar, Ramon, Marciano, Artur, entre tantos craques, figuras que só levaram alegria para os torcedores.
Geraldino Saravá, o maior artilheiro do estádio

 Antecedendo a confirmação de sede para a Copa do Mundo de Futebol no Brasil, criou-se, em 2010, a Arena Castelão, que atuou como gestora durante e após a última reforma (a quarta), já que havia pela frente a Copa das Confederações, um ano antes do evento maior da FIFA, aos cuidados da empresa Luarenas, no formato de concessão como ocorre em aeroportos para “enxugar" a máquina estatal.
 Se por um lado a prestação de serviços, comodidade e asseio/higiene melhoraram, teve nos preços o incômodo ao frequentador tradicional, posto ao isolamento. Ao torcedor, foi-se o direito de tomar bebidas alcoólicas e consumir as tradicionais comidas populares e preços acessíveis, como o sanduíche “cai duro”. Mudou para ofertas de "shopping centers", voltadas às classes mais abastadas, levando a elevado gasto financeiro, incluindo o estacionamento, que chegou a R$ 30,00.
Paul MacCartney em Fortaleza

 Na visão perspectiva de “arena”, em busca de alternativas de viabilidade econômica, ocorreram alguns shows internacionais: Paul McCartney e Elton John, marcados por grandes públicos, seguindo-se do Iron Maiden (com abertura do potente Anthrax), expoente do heavy metal internacional, que na terra alencarina pisou no dia 23 de março de 2016, quado o seu Boeing 747 particular aterrizou em Fortaleza. No dia seguinte um incrível concerto para 25 mil fãs alucinados.

Banda britânica Iron Maiden, fundada em 1977, pela primeira vez no Ceará. Foto G1

O Castelão, enfim, está de pé. O Mata Galinha, antigo bairro homônimo, já não é distante, é central, numa cidade que não para de crescer. Do seu gigantismo nasceu um mundo de encantos. Aquele campo, aquele concreto, o estádio é de todos, futebolistas, artistas, roqueiros, pessoas buscando alegria, descontração, felicidade, bem como disse Paulino Rocha, fruto da determinação do nordestino, que é um forte.

Fortaleza, Copa 2014. 29 de junho, 13 horas: Holanda 2x1 México

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