Dia Internacional da Mulher - Elas Continuam na Luta
“Quando a mulher se lança no mundo de trabalho não faz muita
exigência, sem querer seguir carreira, ter uma posição de destaque, e o que é
pior, é mais acomodada aos salários. Isto talvez pela educação recebida. O
homem foi preparado para vencer e a mulher para ser mãe, dona de casa e criar
os filhos. Vai ser preciso outra geração para se desmanchar essa estrutura
familiar e se libertar disso” (Maria da Natividade Belém Rocha, “Nati”, em
1981, jornal O Povo, quando era presidente do Sindicato dos Bancários do
Ceará).
“O povo ainda é muito despolitizado, muito analfabeto. Somos
pessoas individualistas, por isso é necessário que haja uma conscientização,
com a ajuda dos políticos, para que a abertura política siga adiante” (Douvina
de Castro, deputada estadual, em 1981, O Povo).
Chegada a nova
geração, ficamos a imaginar o que a Nati diria hoje. Se ouve a libertação,
desmanchando a estrutura conservadora, ou se a Constituinte de 1988 foi
suficiente para satisfazer a sua sugestão. E se a “Nêga Guerreira”, Douvina,
filha de ex-governador, satisfez-se com a abertura política.
Passados 35 anos dessas
declarações, louvamos conquistas como a defesa, surgimento de entidades,
tornando mais flexível a sua liberdade, saindo das amarras domiciliares para
impor seus direitos, denunciando e cobrando, por exemplo, punições aos atores
da violência contra elas, fato que culminou com a Lei Maria da Penha, que chega aos dez anos. Números
que eram ocultados, hoje estão mais precisos, aquelas que só assistiam agora
são atrizes, evidenciam e tornam a cena mais real.
Reconhecido pela ONU
devido ao esforço e persistência, uma luta que continua por melhores salários, isonomia
e reconhecimento social pela participação igualitária frente aos homens, no
Brasil garantida pela Lei Maior, o Dia Internacional da Mulher é mais do que
uma data para presenteá-las com flores, é o momento para se mostrar o que elas
são e o que ainda almejam, num engajamento unitário pela plenitude dos seus
direitos.
Voltemos para o
Governo Provisório de Vargas, durante o engatinhando político. O voto feminino
foi garantido em 1932, germinado através de uma Assembleia Constituinte no ano
seguinte, sendo que entre os 254 eleitos apenas uma mulher conquistou o feito:
Carlota Pereira de Queiroz, por São Paulo. No que pese o número, estava
sacramentada a participação, definitiva, do sexo discriminado no centro das
decisões maiores do País.
Para Presidente da
República, porém, o dever cívico se concluiu somente em 1961, quando a dupla
Jânio Quadros – João Goulart bateu o autoritarismo de Marechal Lott e o
populismo de Ademar de Barros. Esse alvoroço por democracia contagiou o País,
numa campanha entusiasta e esperançosa, empolgando uma população sonhadora,
especialmente a nordestina. Depois veio o golpe militar, o retrocesso, a mulher
na cozinha, mas uma parte dela continuou na luta, procurando a reforma, ampla e
paritária. Nas ruas, unidos, os brasileiros conquistaram a volta da democracia,
sendo elas as grandes vitoriosas, pois enfim, não importando a corrente
política, chegaram à chefia do Executivo.
Poetisa Cora Coralina |
Enfim, para
concretizarmos tamanha determinação a qual a mulher deva se espelhar, nada como
a lição de Cora Coralina, que afirmou aos 91 anos: “Hoje escrevo melhor do que
quando era jovem. Se tenho tempo, escrevo poesias todos os dias. As pessoas têm
que produzir, criar e viver seu mundo, sem condicionamentos”. Por motivos
infinitos, além desse da poetisa goiana, estimo essas mulheres, doutoras,
zeladoras, índias, secretárias, professoras, que só nos ensinam, e enquanto
tiver vida não deixarei de amá-las.
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