Dia Internacional da Mulher - Elas Continuam na Luta

 
No Brasil, elas chegaram ao parlamento em 1933

“Quando a mulher se lança no mundo de trabalho não faz muita exigência, sem querer seguir carreira, ter uma posição de destaque, e o que é pior, é mais acomodada aos salários. Isto talvez pela educação recebida. O homem foi preparado para vencer e a mulher para ser mãe, dona de casa e criar os filhos. Vai ser preciso outra geração para se desmanchar essa estrutura familiar e se libertar disso” (Maria da Natividade Belém Rocha, “Nati”, em 1981, jornal O Povo, quando era presidente do Sindicato dos Bancários do Ceará).
“O povo ainda é muito despolitizado, muito analfabeto. Somos pessoas individualistas, por isso é necessário que haja uma conscientização, com a ajuda dos políticos, para que a abertura política siga adiante” (Douvina de Castro, deputada estadual, em 1981, O Povo).
 Chegada a nova geração, ficamos a imaginar o que a Nati diria hoje. Se ouve a libertação, desmanchando a estrutura conservadora, ou se a Constituinte de 1988 foi suficiente para satisfazer a sua sugestão. E se a “Nêga Guerreira”, Douvina, filha de ex-governador, satisfez-se com a abertura política.

 Passados 35 anos dessas declarações, louvamos conquistas como a defesa, surgimento de entidades, tornando mais flexível a sua liberdade, saindo das amarras domiciliares para impor seus direitos, denunciando e cobrando, por exemplo, punições aos atores da violência contra elas, fato que culminou com a Lei Maria da Penha, que chega aos dez anos. Números que eram ocultados, hoje estão mais precisos, aquelas que só assistiam agora são atrizes, evidenciam e tornam a cena mais real.
 Reconhecido pela ONU devido ao esforço e persistência, uma luta que continua por melhores salários, isonomia e reconhecimento social pela participação igualitária frente aos homens, no Brasil garantida pela Lei Maior, o Dia Internacional da Mulher é mais do que uma data para presenteá-las com flores, é o momento para se mostrar o que elas são e o que ainda almejam, num engajamento unitário pela plenitude dos seus direitos.
 Voltemos para o Governo Provisório de Vargas, durante o engatinhando político. O voto feminino foi garantido em 1932, germinado através de uma Assembleia Constituinte no ano seguinte, sendo que entre os 254 eleitos apenas uma mulher conquistou o feito: Carlota Pereira de Queiroz, por São Paulo. No que pese o número, estava sacramentada a participação, definitiva, do sexo discriminado no centro das decisões maiores do País.
 Para Presidente da República, porém, o dever cívico se concluiu somente em 1961, quando a dupla Jânio Quadros – João Goulart bateu o autoritarismo de Marechal Lott e o populismo de Ademar de Barros. Esse alvoroço por democracia contagiou o País, numa campanha entusiasta e esperançosa, empolgando uma população sonhadora, especialmente a nordestina. Depois veio o golpe militar, o retrocesso, a mulher na cozinha, mas uma parte dela continuou na luta, procurando a reforma, ampla e paritária. Nas ruas, unidos, os brasileiros conquistaram a volta da democracia, sendo elas as grandes vitoriosas, pois enfim, não importando a corrente política, chegaram à chefia do Executivo.


Poetisa Cora Coralina
 Enfim, para concretizarmos tamanha determinação a qual a mulher deva se espelhar, nada como a lição de Cora Coralina, que afirmou aos 91 anos: “Hoje escrevo melhor do que quando era jovem. Se tenho tempo, escrevo poesias todos os dias. As pessoas têm que produzir, criar e viver seu mundo, sem condicionamentos”. Por motivos infinitos, além desse da poetisa goiana, estimo essas mulheres, doutoras, zeladoras, índias, secretárias, professoras, que só nos ensinam, e enquanto tiver vida não deixarei de amá-las.

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