Imprensa Cearense - 7 de Abril, Dia do Jornalista

Tristão Araripe Jr. O Cearense, republicano de sangue


“O Dia do Jornalista é comemorado no Brasil, no dia 7 de abril, em homenagem a João Batista Líbero Badaró, médico e jornalista, assassinado por inimigos políticos, em São Paulo, em 22 de novembro de 1830. O movimento popular gerado por sua morte levou à abdicação de D. Pedro I, no dia 7 de abril de 1831. Um século depois, em 1931, a data foi instituída como o "Dia do Jornalista". A data, também, celebra a fundação da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), no Rio de Janeiro, em 1908” (FENAJ).

 Neste Dia do(a) Jornalista, tratemos um pouco sobre a origem da nossa imprensa escrita, a mais apaixonante e realista. Eis os primeiros órgãos nacionais:

GAZETA DO RIO DE JANEIRO, RJ (16 de maio de 1808), oficial da Corte, mas que corria com veias republicanas. O primeiro jornal do País.
IDADE DO OURO NO BRASIL, Salvador BA, 14 de maio de 1811. Espécie de Diário Oficial, como o precursor carioca.
AURORA PERNAMBUCANA, Recife PE, 27 de março de 1821, saudando a Revolução Pernambucana de 1817.
O CONCILIADOR, São Luís MA, 18 de abril de 1821.
O PARAENSE, Belém PA, 1 de abril de 1822.
O COMPILADOR MINEIRO, Ouro Preto MG, 13 de abril de 1823.

A partir de “Calendário Geral da Imprensa do Ceará”, Barão de Studart expôs a ordem das publicações cearenses desde os primórdios dos noticiosos legais. Trabalhos oriundos de profissionais que se destacaram pela inteligência e coragem:


Pe. Mororó. 

O DIÁRIO DO GOVERNO DO ESTADO (1 de abril de 1824), Fortaleza CE. Sétimo mais antigo do País, revolucionário, editado pela tipografia Imprensa Nacional, foi comandado por Tristão Gonçalves, tendo Padre Gonçalo Inácio de Loiola de Albuquerque e Melo (Padre Mororó) na redação. Circulou até 17 de dezembro de 1824. O trabalho do Padre pela Confederação do Equador lhe custou a vida, indo à forca.

A GAZETA DO CEARÁ (1824). Barão de Studart só encontrou os exemplares de 6 de abril a edição XXIV, sem fontes de origem, embora tenha retornado em 1915.
O CEARENSE (4 de outubro de 1846), Fortaleza CE, por Tristão de Alencar Araripe Junior, filho de Tristão Gonçalves (portanto, de veias jornalísticas) e neto de Dona Bárbara de Alencar, além de um dos autores precursores sobre história do Ceará. Thomaz Pompeu de Souza Brasil Filho, estudava na Academia de Direito do Recife, sendo ali correspondente do CEARENSE em 1868. De volta a Fortaleza, assumiu a redação do próprio, ao lado do pai, Thomaz Pompeu de Souza Brasil (Senador Pompeu), também notável historiador, da executiva do jornal. Destacou-se nele, também, o jornalista capixaba João Brígido. Durou até 1892, quando caiu o governo de Clarindo de Queiroz. Com o lançamento do jornal CEARÁ, partiu seu conselheiro Rodrigues Junior, do Partido Republicano Democrata do Estado, substituindo a epígrafe ‘órgão liberal” por órgão democrático para agrupar outras tendências políticas.
Polêmico, João Brígido foi considerado um doas maiores jornalistas do País. Foto Heron Cruz (Arquvo Família Brígido)


 A REPÚBLICA, a partir de 1900, o único a circular diariamente, e até então o mais duradouro, trabalhava a serviço de nogueira Acioli e sua oligarquia, que se mantinha no poder mesmo após a queda da monarquia. Do lado oposto, cheios de tropeços, estavam o UNITÁRIO (1903, de João Brígido) e o JORNAL DO CEARÁ (1904). Durante o governo do tenente coronel Franco Rabelo, a quem ajudou a eleger-se em 1912, João Brígido voltou a defender a monarquia por discordar do estilo administrativo do chefe do Executivo. O Jornal foi comprado pelos Diários Associados, de onde surgiu a Rede Tupy.

 A propósito, Assis Chateubriand, dono dos Diários Associados, adquiriu também o lendário CORREIO DO CEARÁ, criado em 2 de março de 1915 por Álvaro da Cunha (A.C.) Mendes, que circulou até 1982. Com o GAZETA DE NOTÍCIAS e UNITÁRIO chegam a funcionar no mesmo prédio.

 Segundo o arquivista, professor e historiador Geraldo Nobre, os maiores vultos da imprensa de Fortaleza, nas duas primeiras décadas do Século XX foram João Brígido, H. Firmeza, A.C. Mendes, Adonias Lima, Guilherme de Sousa Pinto, Clóvis de Alencar Matos, Luís santos, José Sombra, Aurélio de Lavor, Gustavo Borges, Soriano Albuquerque, Eusébio de Sousa, Abílio Martins, Júlio de Matos Ibiapina, Elcias Lopes, Renato Viana, Moacir Caminha, Leonardo Mota, Andrade Furtado, Paulo Aragão, Alberto Montezuma, Godofredo de Castro, Gomes de Matos, Manuel Monteiro, Raimundo Magalhães, Teodoro Vieira, Padres Silvano de Sousa, José de Lima Ferreira e Leopoldo Fernandes; Raimundo Arrais, Deolino Barreira Lima, Vicente Martins, Craveiro Filho, F. Menescal, Bruno Menezes, Olívio Câmara, J. Alves de Figueiredo e Adalberto Brígido Maia .

 Numa época de exemplares com 4 páginas, evidenciavam-se O CEARÁ (J. Matos Ibiapina), O NORDESTE (1922) de orientação católica e considerado um dos melhores até hoje; O POVO (7 de janeiro de 1927), O ESTADO (1936, por José Martins Rodrigues), e a GAZETA DE NOTÍCIAS (1949), primeiro matutino dos Diários Associados no estado, depois comprado por José Afonso Sancho). Tempos depois, em 1957, o dito Afonso Sancho funda TRIBUNA DO CEARÁ, vendendo-o a Edson Queiroz em 1971.  O DIÁRIO DO NORDESTE (1981, do Grupo Edson Queiroz), com os quadros da Tribuna do Ceará (que voltou a Sancho, falecido em 2005, sem o seu patrimônio) chegava para dividir, com o tradicional O Povo, a hegemonia do jornalismo impresso cearense.
Primeira logomarca do O Povo (1928)

 Único a possuir ombudsman (hoje Tânia Alves, que “não dá trégua” aos colegas), O Povo, mesmo com sua tendência de aculturamento à “modernidade”, com fotos que chegam a tomar mais espaço que as matérias, hoje cada vez menos completas, continua como o preferido dos amantes do jornalismo cearense. Desde Demócrito Dummar, seu fundador, passando por Paulo Sarasate, José Raymundo Costa à Adísia Sá, que está aí pra contar a história, superou as crises e continua uma folha impressa e de moderno parque gráfico, como o Diário do Nordeste. Com certeza mantêm a tradição cearense como os melhores da região.

Tipografias que marcaram: IMPRENSA NACIONAL (1824), a mais antiga, adquirida pelo capitão-mor Joaquim José Barbosa; BRASILEIRA (1846, da Paiva& Cia); PATRIOTA (1880, de Jorge Arcúsio); CONSTITUCIONAL (1880), do maranhense Galdino Marques de Carvalho, que editava o famoso jornal conservador D. Pedro II; CEARENSE, de Joaquim Antônio de Oliveira; PATRIÓTICA e FIDELÍSSIMA, de Francisco Luís de Vasconcelos; LITOGRAFIA CEARENSE (Irmãos Costa Sousa); IMPARCIAL, DO COMÉRCIO; UNIÃO; UNIVERSAL, ECONÔMICA, STUDART e a que mais durou, MINERVA.

 No interior de Ceará, os primeiros periódicos foram:
Sobral: “A Ordem”, ligado ao Partido Republicano. Dir. Craveiro Filho.
“Imprensa”, também republicano, mais liberal que o outro. Dir: José Passos Filho.
Crato: “Gazeta do Cariri”. Dir. Otacílio Macedo, e “O Cariri”. Dir. Dir. Antônio de Alencar.
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Ibiapaba: “Correio da Ibyapaba” (1909).
Juazeiro do Norte: “A Ordem”. Dir. Rafael Xavier.
Baturité: “A Verdade”, de cunho católico. Dir. Ananias Arruda.
Granja: “A Comarca”. Dir. A. Batista Fontenele.
Aracati: “Folha do Comércio” (1911) e “A Região”.
Camocim: “A República”, ligado ao Partido Democrata. Dir. Wilibrando Brito.
Acaraú: “O Acaraú”. Dir. Benjamim Gurgel.
São Benedito: “Tribuna de São Benedito”. Dir. João Batista da Páscoa.
Canindé: “Santuário de São Francisco”.
Cascavel: “O Cascavel”.
Viçosa do Ceará: “Jornal de Viçosa”.

Fontes: “Introdução à História do Jornalismo Cearense”, de Geraldo Nobre (Gráfica e Editora Cearense, 1975).
“A Imprensa em Pauta”, de Ana Carla Sabino Fernandes (Ed. Secult CE).

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