Padre Tomás Féliu Amengua - O Jesuíta de Trairi



Pe. Tomás, defensor dos pobres

 No Brasil da Ditadura


Aos 36 anos, ele desembarcou no aeroporto do Rio de Janeiro, três primaveras após a sua ordenação na cidade natal, Palma de Mallorca, Espanha, no mesmo local onde o patrono dos jesuítas se converteu (Santo Afonso Rodriguez iniciou como porteiro da Igreja de Montesión, foto). Aquele encanto turístico, berço de notas românticas e cartão postal do mundo, contrastava com a missão do jovem jesuíta, já de passagem por Cuba e El Salvador, um convívio social e entre os povos carentes da América Latina, não importando se a devoção se voltava ao magistério ou à religiosidade.

Em Solo Cearense


 Três meses depois, adentrou ao Seminário da Prainha, em Fortaleza CE, onde, naqueles bancos centenários, tantos notáveis se sentaram, indo ter com o seu superior, Dom Miguel Fanelón Câmara, Bispo Auxiliar de Fortaleza, de quem recebeu o ofício de comandar a Paróquia de Nossa Senhora do Livramento, em Trairi CE, que estava sem pároco oficial desde 1967.

Trairi: A Maior Missão


 No dia 29 de junho de 1970, Padre Tomás foi empossado pelo colega temporário, Sinval Facundo, diante de uma emocionante homenagem daquele povo litorâneo, cujos pescadores e cidadãos locais lhe surpreenderam com apresentações de boas-vindas. Uma das maiores recepções ocorridas no município, particularmente tratando-se de um membro da tradicional Companhia de Jesus. 
 Sua primeira tarefa, nos dezessete anos de paróquia, foi preparar uma pesquisa sobre as carências daquele povo, concluindo que a prioridade, seria a educação, sem deixar de focar o sentido maior do social, a saúde e bem-estar, além de introduzir algo até então incomum da parte de um religioso, a discussão da reforma agrária.


Pe. Tomás e Prof. Agenor Ferrari, CEPAN, Trairi CE, 1996
 No ano seguinte, selecionou vinte e cinco jovens pobres, os quais passaram a conviver numa associação comunitária, estudando e se preparando para o futuro, quer na formação trabalhista, quer cristã, ao abraço à Igreja. Nascia a Comunidade Estudantil Padre Anchieta (CEPAN), berço de assistência às crianças necessitadas, que recebiam (e continuam recebendo, pois mantém-se firme, inclusive expandindo-se com duas unidades em Fortaleza - CEASPA - e uma voltada à pesca, em Pentecoste CE, Projeto Amanhecer, esta mantida pelo Fundo Cristão para a Criança) estudos, moradia, e formação cívica. Do seu sucesso surgiram as escolas comunitárias, sustentadas através de convênio com a Fundação Interamericana, além da Comunidade Terra da Santa (COTESA), associação com fins de revitalização das comunidades, igualitárias, em regime de solidariedade. A partir de então, Trairi se notabilizou nos levantamentos sócio educacionais do Estado.


Paróquia de N. Sra. do Livramento. Trairi CE.

Itapipoca 


No mesmo ano foi criada a Diocese de Itapipoca CE, passando a Paróquia de Nossa Senhora do Livramento sua subordinada. Através dela, Padre Tomás Féliu trabalhou pelo surgimento das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) no Ceará, levando para o interior a mensagem inovadora da nova Igreja Católica, progressiva, de prática evangélica e resistente às injustiças sociais. Para tal foi a Bacabal, no Maranhão, conhecer as primeiras experiências.

Defesa dos Agricultores e Contra o Latifúndio


Pe. Tomás e sua última celebração: casamento de Ivanhoé e Raimundinha Lucas
1997 - Trairi, Ceará.
A ousadia em levantar a voz da Igreja em defesa dos injustiçados o fez enfrentar adversidades, como a reação negativa dos mais abastados, políticos atrelados à ditadura, coronéis e fazendeiros, que o acusaram de comunista. Fato chocante desse comportamento repressor ocorreu em junho de 1986, na comunidade de Córrego dos Pires, em Trairi, quando do desmatamento, por capangas, de uma fazenda recém comprada, pegando os nativos de surpresa, pois dali mantinham seus sustentos. Tampouco foi cumprida promessa de novas terras àqueles que ali moravam, nem uma forma de diálogo direto. Foi então que famílias da região, inclusive crianças, resolveram adentrar e reivindicar a posse do terreno, ocasionando um violento confronto e a morte de quatro pessoas, inclusive de um capataz do novo proprietário. Tanto a FACIC (Federação da Indústrias e do Comércio do Ceará) como o então Secretário de Segurança, José Feliciano de Carvalho, acusaram Padre Tomás e o Bispo de Itapipoca, Dom Benedito, de serem os culpados, por incitação à violência.
 Desconheceu-se, naquele momento difícil, o seu trabalho em nome da reforma agrária, que culminou com o surgimento da comunidade de Anchieta, em regime de mutirão, numa área de duzentos hectares adquirida por ele, com fim social, em 1975, assim como a criação do banco de telhas e tijolos, incentivando a extinção de casas de taipa. Época em que, com ajuda de uma fundação alemã, entrou com 10% das obras de construção do Hospital Municipal, verdadeira revolução na área de saúde, já que anteriormente os enfermos eram atendidos na casa do padre, ou na sala auxiliar do Salão Paroquial, construída pelo seu antecessor, Padre Antonildo.


Igreja de Montesión, Espanha, de Santo Afonso Rodriguez e Pe. Tomás


Obras de Valores Inestimáveis


Outras obras de Padre Tomás Féliu, além das bandas puxadas a violinos de apoio às celebrações: Centro Agropecuário Criancó (Trairi), Projeto Pequeno Cidadão (São Gonçalo do Amarante, CE), Escola Agrícola Padre Pedro Alcântara, de Russas, CE), Casa de Apoio de Pindoretama, CE, Casa de Parto Dr. Galba Araújo (Trairi, CE), Casa Escola e Pesca de Almécegas (Trairi, CE) e a Casa de Retiro de Mundaú, CE. Destaque-se, também, durante os louvados anos à frente da paróquia trairiense, a sua colaboração no surgimento do Sindicato dos Trabalhadores, Cooperativa Agropecuária, Colégios Pio Rodrigues e Jonas Henrique de Azevedo, além dezenas de associações voltadas às comunidades carentes, priorizando crianças e adolescentes.
 Quis o destino que assumisse apenas uma paróquia, e que se ordenasse e falecesse (em 12 de fevereiro de 2015) na sua Palma de Mallorca, na Espanha, aos 81 anos.

"Dale, Señor, el descanso eterno. Y brille para él la luz perpetua, porque Tú eres compasivo".

 Colaboração: Professor João Batista Santiago (Trairi, Ceará). Grato.


Palma de Mallorca (ESP), à frente sua Catedral



Comentários

  1. um grande homem,um grande enviado por deus,que Deus a tenha no paraiso eterno,saudades

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  2. grande homem de deus, que deus a tenha no paraiso eterno saudades

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  3. grande homem de deus, que deus a tenha no paraiso eterno saudades

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  4. um grande homem,um grande enviado por deus,que Deus a tenha no paraiso eterno,saudades

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  5. Muito bom, esse blog. O padre foi amigo de minha vó. Uma de suas obras está em uma comunidade geograficamente esquecida. É a capela do Atola, em Trairi-CE. Tive a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente em minha infância. Foi um grande homem.

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  6. Ainda lembro dos quatros espíritos trabalhados na CEPAN. Espírito Religioso, Comunitário, Estudo e Trabalho.

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  7. Pe Tomás fez pelo Trairi o que todos os prefeitos juntos em seus 64 anos de emancipação política não conseguiram fazer.

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  8. Por tantas bem aventuranças semeadas almejamos que o nome da principal rua seja mudado para o de pe.Tomas, o que é justo, homenageá-lo para que seja sempre lembrado!!!16 de janeiro de 2018.

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  9. Pe Tomás, um grande homem, uma estrela enviada por Deus para alavancar o nosso Trairi. Homem bom, uma mente fantástica, inteligente e empreendedor. Conduziu com maestria a a paróquia e fez brilhar a nossa terra. Descanse em paz Pe Tomás, missão cumprida...

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  10. Deixou um legado incrível, tive o prazer de conhecê-lo de perto, homem reto, de grande caráter, cativante, alegre...saudades sempre... inesquecível!

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