Eleições 1958 – Partido de JK Decide no Ceará


 A política dos anos 50 diferencia-se da atual, no País, pela fantasia e ingenuidade da época, contra a capacidade de informação do eleitor atualmente, alimentada pelos avanços tecnológicos e liberdade para a escolha dos candidatos. Naquela época os nomes sufragados nas urnas eram impostos por lideranças políticas, destacando-se a figura dos coronéis, os chefes locais, grandes proprietários de terras, sujeitos cercados pela pobreza dominada, que praticamente se obrigava a eleger uma figura longe da sua representatividade.
 Caminhamos eufóricos na marcha pela democracia, a partir de 1982, mas hoje, apesar de os números apontarem crescimento na educação brasileira, permanecem os vícios, a cultura do “cabresto”, numa evidência de que o eleitor continua se apegando aos ideais conservadores, votando em candidatos ricos, num sonho vago de que, quem sabe, possa se beneficiar futuramente dessa aproximação. É o que vemos no interior, onde o “chefe” apresenta o seu candidato e o povo o segue por fidelidade, numa evidência clara de centralização de domínio, tendo em vista os lados antagônicos, um no poder, outro na oposição, mudando de lado conforme os rumos de administração.

Dr. Parsival Barroso (politicacomk,com)
Em 1958, no Brasil, tínhamos o PTB de Getúlio Vargas apoiado por movimentos sociais e sindicatos de empregados, porém, com o País engatinhando na indústria, centralizou-se no campo, onde morava a maioria da população (74,5%, no Ceará) contra a aproximação do PSD, do então presidente Juscelino Kibitschek, com a UDN, numa aliança direitista dentro dos grandes centros urbanos, aproveitando o falecimento do ex-presidente trabalhista. Entretanto, no Ceará, numa manobra do PTB contra o governador udenista, Paulo Sarasate, a quem apoiara em 1954, providenciou-se uma coligação (Oposições Coligadas, PTB - PSD – PSB – PRP e o PSP dissidente) encabeçada pelo então Ministro da Justiça e senador eleito em 1954, advogado Parsival Barroso (PTB), que contou com o apoio de JK. Vitoriosa, mais ainda para o PSD, o de maior legenda, que ampliou suas cadeiras no legislativo, partido sem o qual Parsival não teria triunfado, pois foi um pleito apertado, competitivo (somente após 1958, com o processo de industrialização, o PTB cresceu nas capitais).

Paulo Sarasate deixou o governo e elegeu
deputado federal. Com o gosto da derrota
Quis o destino que de uma aliança entre PSD e UDN, em 1965, surgisse a ARENA, braço da ditadura militar.
 Numa época em que os jornais da capital cearense trabalhavam abertamente pelos seus candidatos, eis os resultados, lembrando que os vices também eram votados. Imagine a dificuldade para votar, por força, também, do alto índice de analfabetismo:

Governador:

Eleito: Parsival Barroso (PTB): 279.449 votos (52,96% dos válidos)
            Virgílio Távora (UDN): 248.241 votos (47,04% dos votos válidos)
Vice: Wilson Gonçalves (PTB) bateu Acrísio Moreira da Rocha (PSD).

Senador:
Menezes Pimentel (PSD) bateu Olavo Oliveira (PSP, socialista)
Suplente de senador: Waldemar Alcântara (PSD) bateu Raimundo Ivan (PSP)

Prefeito de Fortaleza: General Cordeiro Neto (PL - eleito. Propagou o “Regime de Lata”, linha dura contra a violência, colocando presos para trabalhar em obras urbanas).
Derrotados: Ari de Sá Cavalcante e Flávio Marcílio (UDN)

Vice Prefeito de Fortaleza: Aécio de Borba, eleito (PL, assumiu interinamente a vaga de prefeito).
Derrotados: Antônio Girão Barroso (PSB), Claudio Martins, Solon Farias e Denizard Macedo

 Antônio Girão Barroso, jornalista e professor, com larga atividade literária e artística, centralizou a campanha no resgate da cultura local e educação para todos, recebeendo o apoio dos intelectuais da época.
 
Propaganda no jornal Unitário (30/09/1958) cantou vitória da oposição
Antônio Girão Barroso, jornalista e professor, com larga atividade literária e artística, centralizou a campanha no resgate da cultura local e educação para todos, recebendo o apoio dos intelectuais da época.


Candidato a vice prefeito, socialista Antônio Girão Barroso recebeu
o apoio de intelectuais, jornalistas e radialistas, priorizando a cultura.


Deputados Federais Eleitos (Fonte: Wikipédia):

Francisco Monte PSD 19.075 Sobralhttps://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/2/2e/Bandeira_do_Cear%C3%A1.svg/20px-Bandeira_do_Cear%C3%A1.svg.png Ceará (Chico Monte, sogro do governador eleito)

Eleitos para a Câmara estadual:
PARTIDO SOCIAL DEMOCRÁTICO (PSD):
Carlos Mauro Cabral Benevides
 Francisco Diógenes Nogueira
Eleito Murilo Rocha Aguiar
Antônio Paes de Andrade
Ésio Pinheiro  
Raimundo Gomes da Silva
José Correia Pinto
Ernani de Queiroz Viana
Joel Marques  
Antônio de Melo Arruda
Almir Santos Pinto
Joaquim de Figueiredo Correia
Ernesto Gurgel Valente
Franklin Gondim Chaves
Candido Ribeiro Neto
Hugo de Gouveia Soares

CANDIDATO SITUAÇÃO (UDN):
Filemon Fernandes Teles Eleito
Edival de Melo Távora Eleito
Manuel Castro Filho Eleito
Cincinato Furtado Leite Eleito
Guilherme Teles Gouveia Eleito
Aquiles Peres Mota Eleito
João Frederico Ferreira Gomes
Edmundo Rodrigues dos Santos
Quintílio de Alencar Teixeira
José Adauto Bezerra
Edson da Mota Correia
José Napoleão de Araújo
Antônio Barros dos Santos
Abelardo Gurgel Costa Lima
Manuel Gomes Sales
Péricles Moreira da Rocha (Peké)
José Pontes Neto
Francisco Aniceto Rocha  
Francisco Vasconcelos de Arruda
Antônio de Oliveira Castro  
Almino Loiola de Alencar  
Francisco Vilmar Pontes  

PARTIDO SOCIAL PROGRESSISTA (PSP):
Raul Barbosa Carneiro  
Oriel Mota
Vicente de Castro Parente Pessoa  
Aldenor Nunes Freire
Rigoberto Romero de Barros
José Maranhão Filho
Amadeu Ferreira Gomes

CANDIDATO SITUAÇÃO:
José Firmo de Aguiar Eleito
Salomão Mussolini Pinheiro Maia
José Haroldo Magalhães Martins  
Luís Bezerra Costa
Antônio Danúsio Barroso


Fontes: Jornal Unitário, “Eleições 1954 e 1958 - os Partidos e suas Alianças” (Glória Diógenes, NUDOC), TRE CE e Wikipédia.

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