Índios do Ceará – 7 de fevereiro, Dia Nacional de Luta dos Povos Indígenas


 No Ceará, eles já foram incontáveis heróis, felizes pelo abandono alheio, livres, tendo a terra como irmã. Hoje a esperança os faz existir, embora poucos, em torno de 21 mil índios, pelo menos (dos 900 mil do Brasil), divididos em onze etnias: anacé, tremembé, tapeba, pitaguary, jenipapo-kanindé, kanindé, kalabaça, paiacu, kariri, tabajara e potyguara, tendo como Nações Tupis, Kariris e Tapuias, todas em constante processo de lutas pela sobrevivência, ante a ganância dos brancos pelas suas terras.
Índios Tapebas e Pitaguarys unidos por seus direitos

 Documentos mostram que o então Siará Grande passou a sofrer invasão do branco europeu a partir do final do Século XV, na mesma época em que Colombo chegou ao nosso continente. Franceses, holandeses e espanhóis não apenas avistaram como desembarcaram em sua costa, como tiveram contato com os índios, fazendo trocas de gêneros materiais, em busca de madeira e prata. Os franceses foram além, subindo a serra da Ibiapaba, onde socializou-se à minoria tupi. Tem-se essas estadas como não oficiais por conta do Tratado de Tordesilhas, que destinava as terras brasileiras à monarquia portuguesa.
 Os primeiros nativos a contatarem os estrangeiros foram os tremembés, divinos pescadores e flecheiros, que habitavam praticamente todo o litoral do Ceará (que na época incluía o Piauí) e parte do Maranhão; os anacés, da outra zona do litoral, após negociação de paz e terras com os vizinhos tremembés, seguido dos tabajaras e dos potiguaras, vindos do RN e PB, que se associaram aos anacés.

 Em pleno fracasso do sistema de capitanias hereditárias, durante a corajosa expedição de Pero Coelho, passou-se a descobrir as tribos do interior, chamadas tapuias, os índios sem contatos, nômades, desconfiados e mais violentos, cujas denominações passaram à originalidade tupi, destacando-se o papel de um jovem soldado, com seus dezoito anos, chamado Martim Soares Moreno, peculiar no aprendizado do dialeto tapuia, e mestre em tupi. E dali surgiram os nomes das etnias as quais no referimos e resistem.
 Os direitos desses povos avançaram desde a promulgação da Constituição Federal (1988), associando-se a eles as garantias das Leis ambientais, como o Código Florestal. O que se vê, porém, são desrespeitos e nítida ausência do Estado no que concerne às soluções aos conflitos com os brancos, que seria competência da FUNAI. Essas questões são levantadas durante encontros da Assembleia Estadual dos Povos Indígenas. Neles, sensações de insegurança e de esperança de se manter suas tradições e terras.
 Segundo Maria Amélia Leite, da Missão Tremembé (Almofala, CE), respeitada estudiosa, na prática, sobre os índios cearenses, “o grande desafio é a conquista de uma política indigenista de responsabilidade do Governo Federal. É preciso que a sociedade entenda que os índios não se acabaram, que aquele relatório de assembleia provincial, dizendo que não tinha mais índio em aldeamento, foi usada de forma continuada por parte dos governos, de setores da imprensa e da sociedade. Outra coisa a resolver é o estado de inoperância da FUNAI. É preciso vontade política” (Diário do Nordeste).
Monumento aos Tabajaras. Praça dos Índios, São Benedito (Serra da Ibiapaba, CE)

 A perca constante de suas terras, o genocídio no passado e o aculturamento ao modernismo ocidental, descaracterizando sua originalidade, não foram suficientes para arrasar de vez com esse principal laço da cultura cearense, o índio. Em mais um dia de luta por ele, que reflitamos, que sua história não se apague, se renove.
                

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