InsTI - Instituto Tonny Ítalo e as Lições das Ações



Instituto Tonny Ítalo. Itaitinga CE
 No começo de 1912, ocorreu, na capital cearense, o maior  ato de bravura contra o autoritarismo local. Tratou-se de uma manifestação de formação pacífica contra o governo centralizador e reacionário de Nogueira Accioly, fortificado por uma oligarquia.

 A caminhada, que o tempo jamais esquecerá, partiu da Praça Marquês de Herval (futura Praça José de Alencar), rumando pelas ruas paralelas, no Centro de Fortaleza, em direção à Praça do Ferreira, puxada por cerca de 600 meninas e meninos vestidos de branco, a Passeata das Crianças.

 O ditador colocou a cavalaria nas vias para reprimir os manifestantes, independente de idades e sexo. Mas o povo, de cabeça erguida, chegou firme ao local marcado, onde ocorreriam os discursos. Eis que, acuada pela massa, a polícia começou a atirar contra os cidadãos, matando e ferindo. Entre os mortos, porém, o legado da tragédia, a imagem da indignação.

InsTI, 21 de maio de 2016. Ação Social levou serviços à comunidade de Jabuti, Itaitinga, Ceará.

 Após a correria desesperada, sobraram os corpos de duas crianças ensanguentadas, mortas. E diante delas, outra, a jovem Odele de Paula Pessoa, estática, mantendo em mãos o estandarte que carregava orgulhosamente, certamente sem noção de que, a partir daquele momento, seria o símbolo da resistência de um povo injustiçado, rebelado.
Odele Pessoa


 O surgimento do InsTI, precisamente na análise do seu foco, na condição de fonte de orientação no desenvolvimento geral de crianças e adolescentes, fez-me voltar no tempo e refletir sobre o destino dos cearenses, especialmente dos mais carentes, que vivem sem direito à expressão, manipulados, ainda, sobreviventes da base de uma pirâmide de sociedade de classes marcada por desigualdades.

 Naquele dia, no século passado, elas foram orientadas pelos pais sobre o destino de todos, num momento de diálogo, olho a olho, sobre a finalidade do evento, da mesma forma que conversamos e ensinamos as crianças de Itaitinga. Elas tinham noção do que faziam, agindo de maneira integrada contra a repressão, louvando a paz.


No InsTI, as Ações Sociais dividem-se em espaços para descentralizar, ao contrário da política oligárquica. Em cada tenda uma conversa, em cada mesa uma curiosidade, em cada livro duas mil curiosidades. Na inocência desses pequenos vislumbramos a pureza de um mundo de encantos, sonhador, a expectativa de vida sem drogas, sem violência, na plenitude da fratenidade.

 Quando nos visitaram recentemente, espalhei os livros no chão, tendo com elas me sentado, vivendo longe do meu mundo de problemas, pois naquele instante estava no delas, no paraíso. Nossa biblioteca virou objeto de perguntas, pequeninos querendo entender a natureza, as transformações, os segredos da vida.

 O despertar da curiosidade é o momento preciso para se educar, explorar a capacidade infinita de aprender, fazer-se mensageiro(a) de uma universidade de conhecimentos, numa comunicação única, amiga, juvenil, autêntica e segura. Como Odele e seu estandarte, como meus livros e meus sonhos de criança.



Fotos no Instituto: J. Lucas Jr.
Foto de Odele de Paula Pessoa, livro "O Poder e a Peste" (Lira Neto)



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