O Falecimento - Matéria do O Nordeste de 15 de abril de 1935.
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Corpo de Mons. Tabosa na Casa do Clero |
Fechou os olhos à luz
da vida Monsenhor Tabosa Braga. Na sua trajetória pela terra cumpriu a missão
de verdadeiro apóstolo de Jesus, dando-s todo a todos, no dizer expressivo das
sagradas letras. Foi o sacerdote modelar, pela inteireza da fé e pelo acendrado
zelo da sua caridade. Essas virtudes básicas constituíram o fundo do seu
caráter de padre, à altura das excepcionais necessidades do nosso dia. O seu
exemplo de abnegação e de solidariedade integral ao sentimento da Igreja,
expresso através da voz da hierarquia, era uma presença viva e eloquente da
palavra luminosa do Evangelho. Ao contato daquela alma dominada pela paixão de
fidelidade ao Pastor Celeste rendiam-se as mais fortes hostilidades ao bem. Mas
o Monsenhor Tabosa Braga possuía a condão para persuadir as inteligências pela
irradiação comunicativa da sua bondade. Nasceu para guiar consciências no rumo
do infinito, e jamais, nem de leve, transigiu
com os deveres de tão bela e nobre vocação.
No exercício do
paroquiato, em nossos ásperos sertões, consumiu a seiva da mocidade, entregue,
noite e dia, ao exaustivo trabalho do ministério. Chamado, mais tarde, para o
cargo de alta responsabilidade, junto ao chefe do rebanho fiel, passou a
colaborar, como vigário da Arquidiocese, no governo espiritual da nossa terra.
A sua visão segura das realidades do meio, a sua inteligência lúcida, a sua
vontade de aço, o seu espírito de sacrifício, sempre disposto a imolar o mais
pequenino conforto dos interesses do próximo, Dele fizeram o protótipo perfeito
do discípulo encantado pelas lições do Mestre Divino.
Ele quis o Cristo com
a sua cruz. Jamais vimo-lo fugir ao dever do sofrimento. Foi o amigo de todos
os tempos, mas sobretudo o amigo das horas difíceis. Nunca o valoroso e leal
defensor da causa da Verdade deixou de estar no seu posto em momento de perigo.
Com que desassombro e generosidade tomava para si as posições delicadas, quando
a luta era mais renhida e ofensiva adversa mais impetuosa! Era a encarnação
admirável do otimismo franco e espontâneo, oriundo da sua confiança ilimitada
da assistência do Alto. Combatia certo da vitória e nem de longe podia admitir
que as hostes do mal viessem a prevalecer. Infundia, aos que dele se
aproximavam, a coragem decidida no êxito
das realizações da Boa Causa.
Chegou ao termo da jornada, merecendo as bênçãos de toda uma
população reconhecida pelos benefícios dispensados. Foi receber de Deus a palma
de toda uma existência, consagrada aos labores pela glória de Igreja. O seu
enterro foi a mais evidente apologia a seus feitos de heroica benemerência.
Toda aquela massa humana incomputável rendia o preito da sua gratidão ao
semeador de tantos frutos salutares, em bem do nosso povo. Ninguém havia ali
que não devesse ao pranteado morto a graça de um favor. Aquele por quem tudo
abandonou e a quem procurou seguir com a maior generosidade e o mais ardente
entusiasmo. Lágrimas marejavam os olhos de toda a gente. A partida para a
eternidade do grande benfeitor dos pobres e ricos a todos consternava. A
saudade feriu profundamente a família conterrânea diante do féretro daquele
sacerdote, que foi uma das mais enérgicas afirmações do prestígio do nosso
clero.
Biografia
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O seu jornal noticia o seu falecimento |
Antônio Tabosa Braga
nascera em Itapipoca a 19 de dezembro de 1874, sendo seus pais o capitão Domingos
Francisco Braga e dona Anna Luiza Braga. Aos 13 anos matriculou-se no Seminário
de Fortaleza, tendo feito curso de Teologia no Seminário da Paraíba, onde
recebeu o presbiterato, em 1898, das mãos do Exmo Sr. Dom Adaucto Aurélio de
Miranda Henriques. Ordenado sacerdote, quis que o seu ministério sagrado se
desenvolvesse na sua terra e voltou ao Ceará, onde foi nomeado vigário de Santa
Quitéria. Ali fundou um colégio de instrução primária e secundária, chegando a
ter matriculados 65 alunos. De Santa Quitéria, onde se tornou célebre o seu
zelo de pároco, por ocasião de surto pestífero passou a responder pela paróquia
de Pacoti, em 1906, posto em que continuou com imenso proveito para as almas,
as lutas do seu incansável apostolado. Chamado à Capital, foi vigário do Carmo,
diretor de várias associações, jornalista, como um dos fundadores do jornal O
Nordeste, as Arquidiocese de Fortaleza, no qual assinava como “Velho Nicodemos”,
merecendo destaque especial o seu papel relevante em favor da Boa Imprensa, do
Leprosário, da propaganda do catecismo, das comunhões de Páscoa em comum. Ao falecer, era vigário-geral da
Arquidiocese, cargo que desempenhava há anos.
Sem esquecer a sua terra, lá esteve em 1926 para acalmar os ânimos diante do choque político entre coronéis, que envolvia a sua família, como Domingos Braga Filho e Anastácio Braga Filho. Dois anos após, o famoso político Anastácio Braga acabou assassinado por Joaquim Jerônimo de Sousa.
O falecimento de
Monsenhor Tabosa Braga se registrou pouco depois das 13 horas de sexta-feira,
12 de abril, no quarto que o mesmo ocupava, na Casa do Clero, à rua Tristão
Gonçalves. Durante o período mais grave da sua enfermidade recebeu a assistência
dos seus clelegas de clero e de distintos amigos, sobressaindo-se o próprio
chefe da Arquidiocese, D. Manoel, que lhe fazia repetidas visitas,
interessando-se pelo seu estado com todo o devotamento do seu coração de amigo
e pastor. Sofreu, durante os longos meses de enfermidade, imensa dor, a se
notar pelo seu rosto a banhar-se em lágrimas quando o visitante relembrava
áureas quadras do seu apostolado, aludindo as campanhas de religião e de
patriotismo a que consagrou a sua inteligência, o seu coração, a sua virtude.
Tabosa aparecia sempre como o animador esclarecido e forte, humilde sem
baixeza, destemido sem imprudência, denotando, em todas suas atitudes, a
finíssima tempera do seu caráter de verdadeiro sacerdote.
O Enterro
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Secret. Quinderé. Convite para exéquias. |
S Não há palavras para
descrever a extraordinária manifestação da alma do nosso povo em que redundou o
saimento fúnebre, iniciado por volta das 9 horas. No consenso de todos, jamais foi
visto, no Ceará, espetáculo que lhe assemelhasse. Representantes de todas as
classes sociais, sem distinção, acorreram para as últimas homenagens, fato que,
diante da multidão, os automóveis acompanharam lentamente os passos dos
pedestres. Durante o trajeto a urna
funerária foi conduzida a braços, sendo necessária, em certo ponto, levantá-la
como se fosse a ombros para permitir que se tocassem o ataúde. Todo o clero
presente, à frente D. Manoel, seguido dos representantes de todos os colégios
religiosos, de todas as ordens, médicos, professores, jornalistas, advogados,
estudantes, militares, comerciantes, o
povo enfim, como o Dr. Menezes Pimentel e exma. família fazendo as mais
ardentes preces pelo descanso eterno da grande e generosa alma de Monsenhor
Tabosa.
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