Liga Eleitoral Católica - O Integralismo no Ceará
Surgimento da Justiça Eleitoral
Após as eleições de março de 1930, vencidas pelo candidato
governista, Júlio Prestes, ocorreu o movimento insurgente denominado Revolução de
30, que levou ao poder o derrotado, Getúlio Vargas. Sob alegação de fraudes
eleitorais, o que, na época, era prática escandalosamente corriqueira, o novo
governo, tratado de golpista e ditatorial, correu para por em evidência a sua promessa,
fundando uma Justiça Eleitoral Especializada com o seu devido Código. Dois anos
depois, com a instalação do Tribunal Superior Eleitoral e dos Tribunais
Regionais Eleitorais, ela estava em prática no intuito de se focar acima dos
interesses partidários, legitimando os pleitos através de novos alistamentos
dos eleitores e consequente controle do processo, que se concluiria com a
proclamação dos eleitos.
Dois Partidos e Dois Jornais
Padre Helder Câmara em 1936 (Foto J.O.) |
Jornal O Nordeste e a apuração. Dr. Waldemar Falcão e Ubirajara Índio do Ceará eleitos pela Liga Eleitoral Católica. |
A Igreja Católica com os Integralistas
Se por um lado trabalhou
bem as críticas ao predomínio “elitista” dos pedessistas, apelando aos
católicos através de sermões durante as missas, a L.E.C., "o partido de Deus", trouxe para o seu lado
movimentos ligados à Aliança Integralista Brasileira (A.I.B.), formados por
católicos conservadores e até clérigos simpatizantes dos conceitos fascistas, como o então
Padre Helder Câmara, e alguns até do nazismo, conforme publicações na época no
O Nordeste. Segundo Darcy Ribeiro, defendia “uma posição espiritualista, pela
valorização às tradições cristãs, aceitação da doutrina social da Igreja e combate
tenaz ao liberalismo, à democracia e ao comunismo”. Portanto, lutava por um
governo fechado, mas cristão, condenando o protestantismo e o espiritualismo.
A Razão, de Fortaleza. Jornal integralista e em em defesa de Hitler |
Diante de uma campanha acirrada, mas de apoio ao governo centralizador de Getúlio Vargas e ao latifúndio, com o coronelismo disputado pelas duas alas, a L.E.C. saiu-se vencedora, elegendo seis deputados, sendo um da A.I.B., Jeovah Motta, do jornal A Razão, contra quatro do PSD, que culpou o interventor federal, Carneiro de Mendonça, pela derrota diante da sua neutralidade. Pressionado, Mendonça acabou se exonerando em 1934, quando novas eleições legislativas ratificaram a hegemonia da Liga, que para a câmara estadual levou dezessete deputados contra treze dos Távora. Essa maioria acabou elegendo, indiretamente, o novo interventor federal, o advogado e professor Menezes Pimentel, que administrou o Ceará pelo maior período da história, dez anos.
Palácio da Luz: posse do interventor Menezes Pimentel. Ao seu lado, discursa o Dr. Gomes de Matos. (O Estado) |
A A.I.B. não teve problemas para instalar suas bases
eleitorais no Ceará, afinal contou com o apoio do Chefe de polícia do Estado, Cordeiro
Neto, futuro prefeito de Fortaleza, conhecido como militar linha-dura, postura que ficou mais evidente com os comunistas, pobres e negros.
Praça General Tibúrcio: posse de Menezes Pimentel (O Estado) |
Gustavo Barroso, o Líder Integralista no Norte e Nordeste
Da parte dos
intelectuais, destacou-se o cearense historiador, jornalista e advogado Gustavo Barroso, líder das expedições dos “camisas verdes” no Norte e Nordeste, no sentido de difundir a causa da A.I.B. e a sua opção pelos ideais importados da Itália de Mussolini. Essa posição
lhe custou o isolamento junto à maioria dos poetas e artistas de Fortaleza, simpatizantes da Aliança Nacional Libertadora (A.N.L.), fundada em 1935. Embora bem recebido
pela maioria camponesa e católica, contudo, o integralismo aliava a bandeira da
moralidade revolucionária, porém, na realidade, abrigou aqueles cujas práticas
condenara, pois o seu discurso era contra os vícios, e assim assumiu a
contradição de contar com os velhos políticos de históricos assistencialistas. Assim a A. N. L., de esquerda e se
aproximando do comunismo, passou a combatê-la.
Igreja Contra a Maçonaria
Integralismo na Escola Normal (O Nordeste) |
Entretanto, em 1936, a L.E.C. desistiu de lançar candidatos, apoiando o Partido Republicano Progressista (PRP) e ajudando a eleger Raimundo de Alencar Araripe, ex-presidente da União dos Moços Católicos, prefeito de Fortaleza.
A Derrocada
O Nordeste destaca Hitler |
Após a sua renúncia, em 1941, doente, aposentando, D. Manoel não mais influenciou na política, entre viagens e recolhimento em sua residência, na Av. do Imperador, até a sua morte, em 1950, no dia do seu aniversário, afirmando ao seu sucessor, D. Lustosa, não ser merecedor de perdão.
D.Helder Câmara tornou-se defensor dos direitos humanos, enquanto a Igreja Católica só potencializou os problemas sociais, criticando o autoritarismo político, levando o evangelho ao campo, a partir dos anos 1970.
O líder mundial do regime, Benito Mussolini, marechal do império italiano e aliado de Hitler, foi fuzilado por seus compatriotas, enquanto Plínio Salgado ao retornar de Portugal engajou-se novamente na política e ao jornalismo. Já o cearense Gustavo Barroso herdou o nome da Praça Fernandes Vieira, no bairro de Jacarecanga, na sua terra, a partir de 16 de dezembro de 1960, na gestão do prefeito Cordeiro Neto, militar, e cujo secretário de urbanismo era Raimundo Girão, ex-prefeito e seu ilustre amigo. Mostrou-se arrependido quanto ao movimento.
Revista Fon Fon: Integralistas na Praça José de Alencar (1934) |
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