Trairi - Maria Pia. A Alegria de uma Vida

 
Maria Pia: 1910 - 1999
Nascida em Trairi em 1 de março de 1910, Maria Pia de Sales descende de um dos primitivos povoadores brancos do município, o português Manoel Francisco Pereira. Dona Flor (Florisminda Xavier de Souza Pereira), sua avó, foi a primeira mulher a se destacar em um órgão público, gerente dos Correios local, cargo herdado por sua tia mais velha, Chiquinha (Francisca Xavier Pereira), após a morte da genitora. E adiante por sua outra tia, Maria Altina, a querida Madrinha Morena, netas de Dona Flor, ambas filhas de Dona Mundoca (Raimunda Pereira Sales), a quarta filha do pioneiro casal. Madrinha Morena comandou brilhantemente os Correios por 50 anos.


 Dona Mundoca (ou Doca) casou-se, aos 15 anos, com Vicente Sales, do Riacho da Sela, região das Lages, das origens do famoso escritor Antônio Sales, na nossa opinião trairiense, uma vez que quando nasceu, em 1868, Parazinho, ou Parasinho (Alto Alegre, depois Paracuru) ainda não era vila e pertenceu a Trairi Vila em 1863 - 1864. Portanto, os Sales de Trairi são parentes do poeta e político cearense, que por muitas vezes visitou a sua gente.


 
Ig. de São José. Fundada pela
família de Pe. Rodolfo,
 em 1876. Pe. Cícero incenti-
vou sua criação
De nove irmãos, é a oitava filha do casal Vicente/Doca. Maria Pia desde criança demonstrou interesse pela leitura, escrevendo poesias e lendo os grandes romances, como “Iracema”, de José de Alencar, que a despertou para as pesquisas sobre sua terra, muito bem relatadas no seu livro “História de Minha Terra - Como Nasceu Trairi”. Entre os escritos, destacam-se peças teatrais, como a que homenageou o filho ilustre de Canaan, Padre Rodolfo: “Três Alegrias em uma Vida”. O citado religioso, notável intelectual e orador, mesmo concluído os estudos no Seminário da Prainha continuou ali, lecionando, assim como no Liceu do Ceará e em outras escolas, ao mesmo tempo pároco da Igreja de Parangaba. Foi, certamente, formador de Maria Pia e Madrinha Morena no mundo cristão. Canaan, o nome, foi uma sugestão de Padre Rodolfo, neto de Luiz Ferreira da Cunha, fundador de Lavagem, prevendo uma "Terra Prometida", em alusão à passagem bíblica, em terras trairienses.


 Em 1929, mudou-se para Lavagem (Canaan), onde se casou com seu parente, Nilo da Silveira Paixão (Nilo Paixão, família de Mundaú), permanecendo naquela localidade, hoje distrito com potencial para município, por 20 anos. Em seguida, fixou-se entre as moradas da família na sede de Trairi e na rua Visconde do Rio Branco, em Fortaleza. Uma vez meu pai foi chamado pelo amigo Nilo Paixão, nos anos sessenta. Segundo o esposo, comerciante, Maria Pia estava com câncer e tinha apenas meses de vida. A saída era buscar leite de janaguba no Crato. Meu pai foi ao Cariri no jipe do amigo, trouxe a encomenda, e ela viveu por mais de trinta anos.


Joaquim Moreira de Souza, diretor-geral da Instrução Pública do Estado do Ceará, no governo de Matos Peixoto, fez publicar o ato de nomeação de Maria Pia de Sales, em 12 de junho daquele ano, 1929, professora em Lavagem, aos 19 anos, conforme anexo. Certamente a indicação partiu do Dr. José Silveira (José da Silveira Paixão), tio do seu esposo, educador e administrador trairiense, seu professor ginasial naquele município, bastante respeitado na capital. Maria Pia passou todos os seus ensinamentos aos alunos, inclusive teatro, poesia e música, suas paixões.



12/06/1929: Salles como Antônio Salles, nomeada professora aos 19 anos

 Educou os filhos em Fortaleza, mas sempre ao lado da sua Igreja, e dali, diante de tanta fé, aproximou-se do espiritismo. Uma mulher positivista, católica fervorosa e amiga. Seu livro histórico mostra esse lado, o lado da bondade, citando um povo simples e pacífico.


 Na sua última participação pública, em Aquiraz, em 1997, durante evento no seu famoso museu e na histórica Paróquia de São José de Ribamar, da mesma época e características da de Nossa Senhora do Livramento (Trairi), palestrou sobre a história religiosa cearense. Tamanho sucesso que o então arcebispo de Fortaleza, Dom Cláudio Hummes, expressou-se comovido com a riqueza de conhecimentos, fato testemunhado por trairienses presentes. Com certeza um dos maiores vultos da sua amada terra. Uma despedida para a Eternidade.


Fonte: "História de Minha Terra - Como Nasceu Trairi" - Maria Pia de Sales (Ed. LCR)

Comentários

  1. Professor eram meus Tios Maria e Nilo e estou querendo localizar suas filhas Fatima e Lucinha meu email é divanebrito@hotmail.com

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