Biblioteca Pública do Ceará - 151 Anos


 "Ansiedade Pública"


 A tentativa de instalação de uma biblioteca pública em Fortaleza ocorreu em 1848, quando a Assembleia Provincial aprovou uma Lei Orçamentária de autoria do desembargador Frederico Augusto Pamplona, vice-presidente da Província, no cargo de titular em exercício. Sancionada em primeiro de setembro, seriam  seiscentos mil reis para a sua origem. A verba, porém, não foi liberada.


 Somente em 25 de março de 1867, sob as bênçãos de D. Luís Antônio dos Santos, o primeiro bispo do Ceará, a Biblioteca Pública do Ceará foi inaugurada. Por iniciativa do presidente da Província, Conselheiro Barão Homem de Melo, autor da Lei N° 1486, de 8 de setembro de 1865, que não teve a honra de cortar a fita, uma vez que se consumou durante a gestão do tenente-coronel João de Sousa Mello e Alvim, tendo como primeiro diretor Justiniano Domingues da Silva e bibliotecário José de Barcelos, figura das mais preparadas nos meios acadêmicos, ele que preparou os pilastres da Escola Normal. 


Inicialmente instalou-se na então Praça Marquês do Herval (José de Alencar), nas confluências das ruas General Sampaio com Liberato Barroso. Preparado para abrigar a Escola de Pedagogia, o prédio foi avaliado em vinte e três contos, setecentos e vinte e oito mil, seiscentos e doze réis, onde atualmente se erguem os jardins do Teatro José de Alencar. No mesmo local funcionava o Gabinete Cearense de Leitura, à frente parentes do primeiro diretor, de iniciativa privada, que promoveu a primeira reforma do prédio.


Primeira Sede (Foto J.O.)
Conhecida como “Biblioteca Provincial”, constava, na época, com 1.730 volumes, sendo 1.116 oriundos de doações particulares e 835 comprados em Paris pelo engenheiro Zózimo Barroso, incumbido por Alvim durante missão oficial. Uma das ofertas foi do comendador Luís Ribeiro da Cunha: duzentos mil réis, sensibilizado com o discurso do presidente, que tratava a mesma como uma “ansiedade pública”, tornando-a prioritária. Aos cuidados da Secretaria de Estado dos Negócios do Interior e da Justiça, era autônoma, dividida em várias sessões, seguindo as classificações: Jornais, Revistas, Obras de romancistas, Medicina Legal, Agricultura, Indústria e Comércio, Filosofia/Religião/Moral; Direito, Dicionários, entre outras.


 
Lista de Consultas
(A Razão 1929)
Diante dos protestos dos bibliotecários quanto à “localização”, “distante” do centro comercial de Fortaleza, acarretando na baixa frequência de visitantes e até roubos de livros, promoveu-se a primeira mudança, durante a direção de Herculano de Araújo Sales. Exatamente onde se instalara o velho parceiro, Gabinete Cearense de Cultura, no Prédio da Província, na Rua Formosa, 92, hoje Barão do Rio Branco, em 1878, que contava também com o Museu Histórico (Provincial), funcionando entre 17h e 21 horas, embora com reclamações contra os baixos recursos financeiros. Naquela época, recebeu da família do saudoso médico Dr. Joaquim Antônio Alves Ribeiro a sua coleção de artes. Mas as carências se avolumaram após a extinção do Gabinete Cearense de Cultura. Ao completar vinte anos, portanto, a Biblioteca retornou, em 1887, ao mesmo local na Praça Marquês do Herval.





 Logo se mudou para a Rua General Bezerril, onde funcionou o Teatro da Concórdia (depois Teatro Taliense). Em 25 de novembro de 1892, transferiu-se para o prédio que serviu o Depósito de Artigos Bélicos, na rua Sena Madureira com Visconde de Sabóia, em 1915, seguindo  anexada à Faculdade Livre de Direito até se fixar novamente na Av. Sena Madureira, dando de fundos com a Praça dos Voluntários, a futura praça da Policia Civil, um belo prédio de cinco andares, com dois grandes salões e escadas de mármore. Já em 1924 instalou-se na rua Floriano Peixoto

 Após novos interesses políticos, a Biblioteca partiu para a Praça da Sé, na antigo casarão do Comendador Machado, onde funcionou o Telégrafo, a Tesouraria Provincial, a primeira sede da SEFAZ, o Instituto do Ceará e o próprio Liceu do Ceará, na Rua da Ponte com Travessa do Quartel, ou, para nos atualizarmos, Av. Alberto Nepomuceno com Rua Dr. João Moreira. Em 1933, o número de volumes chegava a 14.783, ainda com uma equipe modesta: a diretora, Maria Salazar Fiúza de Pontes, sua auxiliar, a bibliotecária Ana Nogueira Viana (que a substituiu em 1939); dois contínuos e um porteiro.


1937. Com o Arquivo Público na Praça da Sé

 Retornou à Faculdade de Direito, no antigo prédio da Assembleia Provincial, pelo lado da Praça General Tibúrcio, no atual Museu do Ceará, desmembrando-se em 1962.



 
1962. Rua Solon Pinheiro. (Gazeta de Notícias)
Na Rua Solon Pinheiro 36 (1962 - 1967), ocupou o antigo casarão residência do comerciante Maximiano Leite Barbosa, cuja filha, Sra. Maria Luiza Barbosa Câmara, negociou ao governo estadual por Cr$ 9. 442.853,00, na época em que o ex-prefeito Raimundo Girão era o Secretário de Cultura. Mudou-se para a Praça do Cristo Redentor em março de 1967, à Rua Rufino de Alencar, um bangalô hoje inexistente. Nele, funcionou também o Centro de Artes visuais as Casa de Raimundo Cela. Em 1970 não resistiu às investidas de traças, baratas, além da maresia e falta d´água. No mesmo ano, a partir de 19 de janeiro, estava no Palácio da Luz, dividindo o espaço com o Arquivo Público, até 1974.  Então, aguardando a conclusão das obras da sua monumental sede, funcionou na rua Tristão Gonçalves, 920. Foi quando vislumbrou-se um terreno na Prainha, que futuramente seria a sua sede própria:
Rua Franco Rabelo 56, hoje incorporada à Av. Castelo Branco,



 
1969. Na Praça Cristo Redentor (Unitário)
O atual prédio, na Av. Castelo Branco, com cinco andares, projetado pelo Dr. Aírton Montenegro Jr, foi inaugurado durante a administração do governador César Cals Filho, em 6 de fevereiro de 1975. Um belo edifício, mas sem a infraestrutura adequada, pois acabou entregue antes da sua conclusão, uma vez que seria o destaque da visita do presidente Ernesto Geisel, que cortou a faixa. Ao longo dos anos, viu-se, porém, a uma série de dificuldades, como a falta de recursos, levando a perdas inestimáveis. Durante os primeiros anos, com carências como a energia inexistente na área subterrânea, por problemas técnicos, não havia estantes suficientes para abrigar os jornais, estando as edições mais antigas dos primeiros noticiosos expostas sobre mesas e cadeiras, em meio ao calor, cupim e mofo. Isso acarretava em deteriorações, como folhas soltas e rasgadas. O mesmo com as revistas, muitas delas estragadas, perdidas. O grau de insalubridade, em decorrência desse contato com os fungos, era elevado, ocorrendo fatos de bibliotecárias adoecerem de problemas pulmonares, alergias e hanseníase. Após a aquisição de uma câmara móvel de fumigação, e de uma mesa coletora de pós, os problemas diminuíram.







 Em 1978, Decreto do governador Waldemar Alcântara alterou o nome para Biblioteca Pública Governador Menezes Pimentel.


Com as Obras Raras, nas Rua Assunção.
 O ponto crucial, negativo, daquele monumento, diante dessa precipitação, a instalação elétrica, feita provisoriamente, acabou culminando com um lamentável incêndio em 1987, afetando a hemeroteca. Raridades, como o jornais  do século XIX, “A Constituição” (ligado ao Partido Conservador), “O Cearense” (dos liberais, de oposição), “A Razão” (integralista), "Gazeta do Norte” (também liberal) e “A República”, bem como a coleção de “A História da Igreja do Ceará” e parte do arquivo de Obras Raras, foram perdidas pelo fogo, que só não tomou conta do imóvel devido à rápida intervenção dos Bombeiros. Houve o período de restauração, com o prédio fechado ao público, mas infelizmente reabriu sem as devidas condições, com o setor de restauração, por exemplo, fechado.


 Desafios vencidos, problemas superados, em 2018, nas comemorações dos 151 anos da Biblioteca Pública, o Governo Estadual apresenta o prédio adaptado à modernidade, climatizado e em processo de digitalização. Uma luta que superou dois anos, com remoção de parte dos servidores para o Espaço Estação sem deixar de atender o público fiel. 2.272 metros quadrados, em cinco pavimentos rigorosamente tratados, com maquinários novos, como o sistema de ar e a iluminação. E toda a atenção da equipe de bibliotecários e apoiadores, à frente a diretora Enide Vidal, na conservação dos cerca de 115 mil volumes. Se doeu a espera, comemore-se então, pois ela está de volta, afinal, como dizia o presidente da província, em 1865, “trata-se de uma ansiedade pública”.


 Seus primeiros diretores foram:

Justiniano Domingues da Silva (1867)
Herculano de Araújo Sales (1873)
Juvenal Galeno (1898)
Mozart Damasceno (1919)
Ana Salazar Fiúza (1921)
Marcial Teixeira Pequeno (1923)

Atual diretora: Enide Vidal. Secretário de Cultura: Fabiano Piúba. Governador Camilo Santana.

 Fontes: Jornais Unitário, Gazeta de Notícias, A Razão, A Constituição, Diário do Nordeste e Tribuna do Ceará.





Em 1967, na Praça do Cristo Redentor. (Gazeta de Notícias)





19/01/1970: Primeiro dia no Palácio da Luz. (Unitário)

Comentários

  1. Parabéns Lucas Junior pela pesquisa, pelo texto, pela história, pelo conhecimento, pelo sentimento de apreço e de amor à Nossa Biblioteca, equipamento cultural mais antigo do Ceará, diz a história, como também um dos equipamento culturais mais importantes para a cultura, partindo do princípio que em cada cidade, por menor que seja, tem uma biblioteca, realidade diferente dos museus, dos arquivos, dos teatros etc. Gratidão e Viva a Leitura, Viva a Literatura e Viva a Biblioteca Pública do Estado do Ceará Menezes Pimentel!!!!

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