Paróquia de Fortaleza - Jornal O Nordeste, 7 de setembro de 1963
Jornal da Diocese, O Nordeste |
Matéria de O Nordeste. Fortaleza, 7 de setembro de 1963
O Siará (forma primitiva de Ceará), durante o século XVI, não deu sinal de vida religiosa. As tribos selvagens que povoavam toda a região cultivavam suas divindades, com seus ritos. Muitos anos transcorreram para que fosse possível organizar uma paróquia em Fortaleza. Supõe-se que em 1671 houvesse uma paróquia em sentido lato, tendo por igreja paroquial a Capela do Forte de Nossa Senhora da Assunção, e por vigário o Padre Francisco Ferreira Lemos, mas não na certeza. Ela, também conhecida como Oratório dos Soldados, teria servido à população como Matriz até 1700. Contudo, à luz dos documentos, há de se considerar a mais antiga das paróquias cearenses a de São José de Ribamar de Aquiraz (1700).
Donatários da Capitania
Nos albores do século XVII, pelo interior da Capitania de Antônio Cardoso de Barros desenvolveu-se alguns núcleos de cristandade, como veremos. Seu território, porém, era um mundo desconhecido. Segundo Barão de Studart, “a doação de Cardoso de Barros não foi aproveitada, esse donatário não assinalou a si ou por propostas à posse dela com algum estabelecimento”. E pouco adiante acrescenta: “Se Antônio Cardoso não empreendeu a colonização das terras doadas, também não o fizeram os demais aquinhoados com terras hoje cearenses. O esquecimento da Metrópole ficou a envolver esta parte da Colônia até o ano de 1603”.
A Capitania se
estendia por quarenta léguas, desde a foz do Camocim (ou Coreaú) até a Angra
dos Negros, no Jaguaribe. Entretanto, esse território estava incluído nas cem
léguas de João de Barros e Aires da Cunha, outros donatários. (Nota do Blog:
segundo os mapas dos primeiros navegadores, Angra dos Negros na verdade seria a
foz do rio Curú).
É verdade que
passaram pelas costas cearenses vários navegadores. Desde Pinzon, no mesmo ano
do descobrimento do Brasil, até Nicciaz de Rezende, em 1570. Uns dez
excursionistas passaram pelos mares cearenses, sendo que vários deles
desembarcaram em nossas praias. Mas não se fixaram os civilizados nestas plagas,
senão anos depois.
1612 - Capuchinhos de Passagem pelo Ceará
Pelo ano de 1612,
alguns navios franceses tocaram a Baía do Mucuripe e a chamada Jericoacoara.
Nessa flotilha que demandava a França Equinocial (Maranhão) vinham Frades
Capuchinhos, mas não se demoravam senão poucos dias nas praias cearenses. Mesmo
no século seguinte o movimento mais acentuado de catequese se realizou no
interior da Capitania.
Em Fortaleza, a ação
dos Jesuítas se fez sentir, apenas de leve, na metade do século XVII. Escreve o
padre português Serafim Soares Leite (“A História da Companhia de Jesus no Brasil”,
página 75): “Data de 1656 o primeiro contato dos Jesuítas com a povoação do
Forte, quando ali esteve o Pe. Antônio Ribeiro. Outros também passaram, sendo
que o Pe. Cloques chegou a ser capelão. A primeira casa própria dos Padres da Companhia de Jesus
deve datar de 1723".
O SEGUNDO SÉCULO
De 1600 a 1700, oferece a Capitania um campo vasto à
catequese. Os missionários trabalharam intrepidamente no âmago da alma rude dos
habitantes.
A Companhia se inicia
com o favor dos poderes públicos.
Em 1607 (20 de
janeiro), os Padres Francisco Pinto e Luiz Figueira embarcaram com destino à
foz do rio então chamado Jaguaribe - que se supõe ser o rio Apodi ou Mossoró.
Vinham de Pernambuco com sessenta índios. Seguiram por terra a pé em direção à
Serra da Ibiapaba. O Padre Francisco Pinto (Amanaiara) foi logo martirizado
pelos tapuias.
Os primeiros
trabalhos desses heróicos Jesuítas tinham de se limitar ao essencial, pois iam
começar da estaca zero essa penetração dificílima, superando com toda a sorte
os obstáculos. Ricos de fé e santa intrepidez, iniciaram o desbravamento
material e espiriual dessa região desconhecida. O Padre Figueira e outros
Jesuítas fundaram 55 aldeias em cerca de sessenta anos.
Depois de prestadas
as homenagens ao Padre Francisco Pinto, martirizado pelos tocarijus, e
sepultado em Ubajara, no pé da Serra da Ibiapaba, o outro se retirou para o
Fortim do Siará e ali formou uma aldeia a que se chamou de “São Lourenço”. Pe.
Luiz Figueira retirou-se para Portugal, onde permaneceu por vários anos, sempre
visitando o Brasil. Certa vez, em 1623, vinha em companhia do governador Pedro
Albuquerque e quatorze jesuítas, quando deu-se o naufrágio, no dia 29 de junho,
nas costas do Pará, no qual quase todos pereceram. Embora salvo na Ilha de
Joanes, ou Marajó, Padre Luiz Figueira e os demais companheiros acabaram
devorados pelos selvagens antrófagos aruans.
Em Fortaleza, ainda
era muito incipiente o movimento religiosos. No primeiro quartel do século XVII
o catolicismo ainda se esboçava, parecia não haver progresso. A expedição de
Pero Coelho, em 1603, não durou muito, apesar da denominação de Nova Lusitânia
a esta terra e Nova Lisboa à povoação (1604). Somente em 1612, Martim Soares
Moreno, animado e de ótimas intensões, tentou progredir, contribuindo, no dia de
São Sebastião, um fortim, mas teve de dividir o seu tempo com o Maranhão e
Pernambuco. Mal chegou a organizar a sociedade cristã de Fortaleza.
Vieram depois od
batavos (holandeses, 1637 a 1640), que, por serem calvinistas, não eram
elementos para fomentar vida cristã. Só pelo ano de 1663 pode-se dizer, com o
capitão-mor João de Melo Gusmão, começou a se organizar a família brasileira
católica em Fortaleza.
Ressalte-se que “os
Missionários da Companhia de Jesus só começaram a entrar no Ceará depois que o
Conde de Atouguia, sob instâncias do governador de Pernambuco, Francisco
Barreto de Menezes, enviou o Padre Antônio Vieira, à frente de outros Jesuítas,
para o trato com os índios após a retirada dos holandeses, a quem haviam
servido com dedicação e constância” (“Algumas Origens do Ceará” - Antônio
Bezerra).
Contudo, na Serra
Grande, florescia a fé. O trabalho mais intenso dos Missionários se fazia na
Serra da Ibiapaba, mas já pelos fins do século XVII. Cuidavam de três tribos:
Quiratiús, Quitaius e Oconjás.
Ig. de S. José de Ribamar. Aquiraz, 1700 |
Um
pouco antes já se trabalhava não só na Serra Grande como também em Parangaba,
onde realizaram algum trabalho os Jesuítas, entre os quias muito se distinguiu o
Padre Jacob Copelo, mas foram serviços transitórios ou de preparação. Conforme
Padre Serafim Leite, o primeiro deles a trabalhar em Parangaba , e nas aldeias
vizinhas, foi Antônio Ribeiro, Missionário vindo da Ibiapaba, ao chamado do
Almoxarife e do Capelão de Fortaleza, que chegou ali no fim de 1656 ou começo
de 1657, para apaziguar a rebelião subsequente ao morticínio dos anacés.
PRIMÓRDIOS DA DIOCESE NO CEARÁ
O Maranhão era uma
Prelazia. Foi seu primeiro Prelado o Padre Antônio Pereira Cabral, nomeado a 19
de fevereiro de 1616. Passou depois a Diocese - criada pela Bula “Super
Universas Ecclesias” no ano de 1677, sob o Pontificado de Inocêncio XI. A
princípio era sufragância do Patriarcado de Lisboa, depois passou a ser
sufragância do Patriarcado da Arquidiocese da Bahia (1827). O primeiro Bispo do
Maranhão foi Dom Gregório dos Anjos, português (1679).
O Ceará pertencia a essa circunscrição eclesiástica - ao Maranhão.
E quando foi criada a Diocese de Olinda (1676), o Ceará passou a depender eclesiasticamente de Pernambuco. O primeiro Bispo de Pernambuco, ou de Olinda, foi Dom José Joaquim de Cunha de Azevedo Coutinho. O décimo oitavo Bispo de Pernambuco foi Dom João da Purificação Marques Perdigão (1833 - 1864). Foi no seu Governo que se criou a Diocese do Ceará, cujo território se desmembrou de Olinda.
Porém, o primeiro sacerdote que exerceu ministério em Fortaleza foi o Padre Baltasar João Correia, que se sabe ter tido jurisdição na capela do presídio de Fortaleza (Forte de São Sebastião, 1612), levado por Martim Soares Moreno. Na segunda metade do século XVII, o Ceará constituía uma freguesia, senão no sentido canônimo, ao menos na linguagem dos historiadores da época, e a freguesia tinha o mesmo limite da Capitania. Seus vigários foram:
Pe. Pedro de Morais (1664).
Pe. Francisco Ferreira Lemos (1671).
Pe. Amato Fernandes de Menezes (1683).
Pe. João Leite de Aguiar (1696).
Pe. João de Matos Serra (1698).
Fortaleza só foi Vila a 13 de abril de 1726; Aquiraz já era Vila desde 1718.
Durante o Século XVIII,
o interior do Ceará se desenvolveu novamente. As primeiras vilas criadas foram
em 1759: a Vila de Ibiapaba se chamou Vila Viçosa Real, 1759 (hoje Viçosa do
Ceará); a de Caucaia Vila Nova Real de Soure; Vila Real do Crato (1764); Vila
Real e Distinta de Sobral (1773) e o Curato da Vila de Santa Cruz do Aracati
(1780).
A NOVA DIOCESE
D. Luiz. Bispo do Ceará |
A 10 de agoso de
1853, através de decreto do Imperador Dom Pedro II, e da Lei da Assembléia
Geral, foi criada a Diocese do Ceará, desmembrada da de Olinda, conforme a Bula
de Pio IX, “Pro anumarum Saluse”. Passou a funcionar em 1854, faltando apenas
as Paróquias de Crateús e de Independência, que ainda não faziam parte da Diocese,
continuando ligadas a Olinda. Nesse tem, a população calculava-se 630 mil
habitantes, limitando-se apenas às Dioceses de Olinda e do Maranhão, já que o
Rio Grande do Norte e a Paraíba pertenciam à Diocese de Olinda, enquanto o
Piauí à do Maranhão.
A população era quase
totalmente católica, segundo o recenseamento de 1888 registrou apenas 150
protestantes e uma dúzia de judeus.
Nessa época havia na
Diocese 74 paróquias e um curato. O número de igrejas era 78 e o de capelas 11
em toda a Província do Ceará. A população de Fortaleza constava com cerca de
9.000 habitantes. Civilmente, o Ceará já havia se emancipado da Província de
Pernambuco em 1799. O primeiro Governador do Ceará foi Bernardo Manuel de Vasconcelos.
Eclesiasticamente,
até 1854 era apenas Vigararia Forânea da Diocese de Olinda, já que o Bispo de
lá nomeava Visitadores, sendo o primeiro deles o Frei Felix Machado Freire
(1735), e o último Antônio Pinto de Mendonça (1884-1881).
O primeiro bispo do
Ceará foi D. Luiz Antônio dos Santos (1861), nascido em Angra dos Reis, RJ.
Antes dele, porém, dois sacerdotes haviam sido indigitados para esse lugar. O
primeiro foi o Pe. João Quirino Gomes, baiano. O segundo foi o Pe. José Tavares
da Gama, pernambucano.
Seminário da Prainha no início do século XX.. Fundado pelo primeiro Bispo do Ceará, Dom Luiz Antônio |
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