Ferroviário Atlético Clube - Pantheon das Oficinas
RVC - Panteon do Esporte Cearense ( O Jornal, 18 de julho de 1958)
Texto: Alencar Benevides. Fotos: Byron Araújo
Nas Demóstenes Rockert trabalham craques que já brilharam em gramados brasileiros - O Ferroviário nasceu de uma fusão de Matapasto com Jurubeba – Uma visita ao Museu dos Vivos.
Os romanos da
antiguidade tinham um templo no Campo de Marte para culto a todos os seus
deuses, a quem eles chamavam de Pantheon. Também os gregos honravam a memória dos
seus antepassados num templo com o mesmo nome. Aqui, em Fortaleza, o engenheiro
Demóstenes Rockert construiu as oficinas do Urubu, para mais tarde transformá-las
em Pantheon do Futebol Cearense. A nossa reportagem teve a oportunidade de
visitar as Oficinas da RVC, onde encontrou uma legião de antigos jogadores ,
que como os deuses dos romanos e os antepassados dos gregos foram ídolos do
povo.
A RVC e o Futebol Cearense
A nossa rede
ferroviária contribuiu, sem dúvida, para o lugar de destaque que ocupa no
futebol cearense. Em 1939, foi contratado o primeiro profissional para o “association”
alencarino. Popó, o “Pingo de Leite”, depois de uma temporada no América do
Recife, no Campo do Prado, ingressou no Ferroviário, iniciando assim uma nova
fase para o esporte das multidões. Em seguida, chegaram para o grêmio “erreveceano”
Zuza e Lourival. Já o Ceará, forçado pelo gesto do Ferrim, também mandou buscar
em outras plagas reforços para a sua onzena. Estava dado o primeiro passo do “association”
da Terra da Luz em busca de um lugar ao sol no cenário esportivo do Brasil.
Museu dos Vivos
Quem visitar as
oficinas da RVC lembrará logo dos poetas. Recordar é viver. Uma legião de
antigos craques trabalha nas Oficinas da Rede de Viação Cearense. A reportagem
esportiva de O Jornal, durante a visita às Oficinas Demóstenes Rockert, teve a
oportunidade de entrar em contato com vários atletas que já foram ídolos de uma
torcida, recordando com eles os dias bem vividos em que os jogadores corriam
felizes atrás da bola, sonhando com a fama. O repórter, ao percorrer as
Oficinas, teve a impressão de estar visitando um monumento de relíquias, um
autentico Museu dos Vivos.
Nomes do Passado
“Ah! Se o passado
voltasse...” foi esta a exclamação que espiritualmente Babá, Luís Rodrigues,
Chico Dutra, Boaventura, Gumercindo, Abel, Benedito, Balduíno, Zimba, Zé da
Mundoca, Serejo e Pipi disseram ao cronista. Tivemos a oportunidade de mantermos
animada palestra com esses ex - craques. Outros estavam de férias, entre eles
Capitulino e Abreu. Outro, deixou para sempre o convívio dos mortais: Pepuá,
vítima de um destino cruel, teve seu passe para a humanidade. Zimba e Benedito foram
sem dúvida os nomes mais populares do Ferroviário. Zimba, mais antigo, fez
época no futebol cearense. Quando ia começar uma partida perguntava: “ Pra que
lado eu boto?”...e quando terminava o jogo: “Quem ganhou?” Deixou de jogar quando
Benedito, vindo de Parnaíba, iniciara sua carreira no time coral. Benedito era
o “Danton” das massas. Sempre falava em nome dos colegas num português à sua
moda e gostava de se trajar bem, de modo que, se naquela época houvesse crônica
social, talvez figurasse na lista dos “dez mais”.
Chico Dutra Nasceu para Viver entre Craques
O mestre geral das
Oficinas Demóstenes Rockert é o conhecido desportista Francisco de Assis Dutra,
o estimado Chico Dutra, como é conhecido pelos colegas, ou “Chiquinho”, para as
fãs. Também já deu trabalho a uma pelota. Foi craque jogando de zagueiro,
posição a qual foi artilheiro do certame de 1939. Alcançou, dentre outras, a posição de diretor técnico do Ferroviário,
embora se encontre afastado das lides pebolísticas. Dança e cinema são, agora,
seu esporte predileto.
Um Trio de Desportistas
A segurança de uma
cidadela está num trio final. Também a segurança das Oficinas Demóstenes
Rockert está num trio chamado pelos desportistas Dr. José Walter Cavalcante,
Francisco Dutra e Abel de Paula Lemos. Abel, como Chiquinho, com licença dos “brotos”,
é um desportista cem por cento. Cativa pela sua simpatia e modo de tratar, já
tendo feito uma “fezinha” com o “balão de couro”. O Dr. José Walter Cavalcante,
que atualmente dirige as Oficinas do Urubu, faz parte do Conselho Deliberativo
do Ferroviário e gosta muito do grêmio coral. Portanto, os três continuam vivendo
entre os craques.
Como Surgiu o Ferroviário
Chico Dutra, Zé da
Mundoca e Boaventura contaram que, todos os dias, ao término do expediente nas
Oficinas, alguns operários iam bater bola. Havia dois times: o Matapasto e o Jurubeba.
Antes das partidas era colocada uma “taça”, uma mariola (lata de doce) para o time
vencedor, mas quando empatava era a maior confusão. Por causa disso, Chico
Dutra quase apanha um dia. Em 9 de maio de 1933, reunidos diversos jogadores ao
lado de desportistas, foi fundado o Ferroviário Atlético Clube, que embora sua
origem dos outros dois, nada tem a ver com a planta.
1958 : Antigos jogadores, funcionários da R. V. C, nas Oficinas do Urubu. Essa locomotiva continua no local, hoje Transnordestina e seu museu. (O Jornal) |
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